Saúde “pouco eficiente” de Santa Cruz gera embate entre vereadores na Câmara
Ponto alto da sessão extraordinária da Câmara na manhã desta quinta-feira (05) foi o embate entre vereadores da base e da oposição sobre o levantamento do jornal Folha de São Paulo que classifica a Saúde de Santa Cruz do Rio Pardo como “pouco eficiente”. Enquanto a base defendeu o serviço oferecido à população, tentando desqualificar o estudo, a oposição usou os dados para corroborar a necessidade de melhorias na gestão da saúde.
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O Ranking Nacional de Eficiência dos Municípios, avalia o desempenho das prefeituras de todo o Brasil. No panorama geral, Santa Cruz ocupa a 711ª posição, puxada por bons índices do Saneamento Básico (325ª colocação) e da Educação (676ª). O setor da saúde, no entanto, vai mal, figura entre os piores do país, na 4.690ª posição entre os 5.276 municípios analisados.
Segundo o levantamento da Folha, um dos fatores apontados para o mal resultado é que apenas 59% dos domicílios santacruzenses são cobertos pela atenção básica das Equipes de Saúde da Família. O índice alcançado por Santa Cruz é mais baixo do que os registrados em cidades menores da região. A cidade só está melhor que Bauru e Ipaussu. (leia a matéria aqui).
As discussões sobre a saúde “pouco eficiente” começaram durante votação do projeto de Lei 136/2024, de autoria do executivo, que abre um crédito adicional de R$ 655,7 mil justamente para o setor da Saúde, com a finalidade de cobrir despesas de custeio da pasta municipal. Assim que o texto foi colocado em discussão, o vereador Juninho Souza (União BR) pediu a palavra. (veja aqui, a partir dos 30:12).
“(Aproveitar) esse projeto que vai destinar mais montante para nossa saúde com uma triste notícia para a população. A saúde de Santa Cruz está no ranking da pior saúde do Brasil. Uma tristeza, pessoas esperando um ano, dois anos na fila para fazer uma cirurgia. Uma cidade rica em recursos com mais de R$ 300 milhões por ano arrecadado pelos tributos da população e essa saúde cada vez mais fracassada. Um prefeito que se elegeu dizendo que era da saúde, mas que na verdade é o prefeito festeiro. Deu prioridade em festa, esquecendo a prioridade que é a Saúde de Santa Cruz”, declarou.
Após a fala de Juninho, o vereador e candidato a vice-prefeito Cristiano Miranda (Republicanos) ocupou a tribuna.
“Menos de 30 dias das eleições e o pessoal da oposição só visa destruir, falar mal da cidade de Santa Cruz, falar mal da Saúde, Upa, Santa Casa, Postos de Saúde. É fácil falar que a saúde de Santa Cruz é a pior. Vai lá em Ourinhos, em Bauru, ver o tamanho das filas. Temos problemas, sim. Mas Santa Cruz do Rio Pardo tem uma boa saúde, sim. Postos de Saúde sendo construídos, futuro centro de hemodiálise na Santa Casa. Trabalhar com mentiras, querer destruir a administração? Para, que está ficando feio. Não adianta espernear aos 45 do segundo tempo. Vamos mostrar trabalho para nossa população”, falou.
O vereador professor Duzão (PSOL) também tomou a palavra para defender a saúde de Santa Cruz.
“Saúde realmente é uma torneira aberta. Enquanto tiver gente viva, vai ter gente doente, gente precisando da saúde. Fato inegável. Mas eu gosto de trazer dados estatísticos. O Brasil tem mais de 5.200 municípios. Hoje, segundo o ranking da Folha de São Paulo, em termo de excelência e produtividade da saúde pública, Santa Cruz do Rio Pardo ocupa posição de 711 para ser mais preciso (Duzão se equivocou. No ranking geral o município está na 711ª posição. A saúde ocupa a 4.690ª colocação).”
Duzão ainda citou Botucatu e Bauru como grandes centros que possuem faculdades de medicina e que cobertura básica de saúde inferior a de Santa Cruz. De fato, segundo a pesquisa, Bauru (380 mil habitantes) está pior que Santa Cruz. A cidade vizinha ocupa o 4.870º lugar no ranking, tem cobertura básica em 51% dos domicílios e 2,89 médicos a cada mil moradores. Santa Cruz tem cobertura de 59% e 2,97 médicos a cada mil habitantes. Quanto à Botucatu (145 mil habitantes), os fatos mostram o contrário. A cidade é 1ª no ranking nacional geral. Está em 4ª no Brasil no indicativo de Saúde, com 58% de domicílios cobertos pela atenção básica (Santa Cruz tem 59%) e 12,31 médicos a cada mil habitantes.
Após Duzão deixar o microfone, o vereador Fernando Bitencourt (União BR) tomou a palavra e corrigiu seu colega.
“Eu apenas pedi a palavra para estabelecer a informação correta. Essa notícia saiu no dia 3 de setembro. Na verdade Santa Cruz realmente está em 711, mas não é na saúde. Na Saúde, em questão de eficiência – são 5.276 municípios (avaliados pelo estudo)- estamos na posição de número 4.690. Tá ruim. Somos 711 no ranking porque Educação e Saneamento elevam esse índice. O ranking é de todas as eficiências na educação, saneamento, receitas, na qual também estamos mal. Então é eficiência nesses itens. Para estabelecer a verdade. Na saúde, realmente, avaliado por um instituto, por um imprensa, estamos muito mal. Espero que leiam a matéria para entender isso”, declarou.
Paulo Pinhata (Agir) também falou e focou nas melhorias que o próximo gestor deve implementar na saúde do município.
“Saúde é difícil, a gente acompanha. Claro que tem os pontos positivos e os negativos. Temos que criticar e elogiar, tem os dois lados. Mas tem três pontos que precisam ser melhorados. Renovação da frota. Tem veículos quebrando no caminho com paciente. Questão dos remédios e a demora das consultas”.
Na sequência o presidente da casa Lourival do Raio-x (Republicanos) pediu uso da palavra. Ele disse que leu a matéria e criticou a forma como a Folha de São Paulo fez o levantamento das estatísticas.
“Ela (Folha de São Paulo) não convive Santa cruz do Rio Pardo. Convive com dados. Da mesma forma que eu entendo que o IBGE teve falha muito grande quanto ao crescimento de Santa Cruz do Rio Pardo. Estou na saúde há 32 anos. Tenho dois fatos para passar. A UPA, em janeiro de 2024 atendeu 5.892 pacientes. Em julho deste ano, 7.822 pacientes. Nós temos acréscimo de 2 mil pacientes. Fiz conta, por mês são mais de 200 pacientes. Médico teria que atender cada paciente em no máximo 8 minutos. Santa Cruz tem Centro de Especialidades. Será que a Folha de São Paulo sabe disso. Não sabe. É estatística genérica. Temos que discutir o que vivemos aqui. Vou falar um índice aqui. Pasmem. De 2017 a 2020 foram 2.256 cirurgias. De 2021 até 2024, foram 4.017 cirurgias eletivas, quase o dobro. Então temos que ver a realidade daqui.”
O vereador Cristiano Tavares (União BR) também pediu a vez.
“Se hoje a Folha de São Paulo falasse que santa cruz estava com índice alto, muitos estariam elogiando. É assim mesmo. Ninguém está falando aqui de servidores, mas do gerenciamento da saúde que hoje não é da forma como deveria. O gerenciamento, aqueles que têm a caneta e a autoridade e força de mudar é que está errado. O funcionário trabalha muito. Só que a maneira que a saúde está sendo conduzida não está correta. Tem caso de paciente que aguarda 40 dias para uma consulta e o médico não aparece. A parte do gerenciamento não está bom. E quando não está bom tem que mandar embora”, declara.
Tio Carlinhos (Republicanos) disse que cada um tem seu ponto de vista em realçao à saúde de santa cruz e que é preciso respeitar cada um deles.
“Se está mal na saúde, vem mal lá de traz. Não é possível estatística ruim em dois ou quatro anos. Vem arrastando lá de trás. Nesse governo, a hemodiálise é uma realidade, dois postos de saúde, um terminando e ouro sendo construído. Vai existir crítica, faz parte, mas falar que a saúde está acabada, não é bem assim.”
Adilson Simão (PSDB/Cidadania) pediu a palavra para refutar a fala do colega Tavares, criticando médicos.
“Tavares disse que paciente espera 40 dias e o médico não vem. O que acontece? É especialidade. Médico de especialidade você não consegue. Ele tem consultório, tá atendendo, tem que fazer uma cirurgia, ele não vai aparecer. Você vai atrás de médico especialista e não tem. Eles não querem trabalhar no SUS. Por isso marca a consulta e não vem. O que faz com ele? Tem o que fazer? Não tem o que fazer. Se manda embora, fica sem. Se manda especialista embora não vai ter ele nem uma vez no mês, nem um vez no ano. Não é culpa do governo. Governo contrata, mas se ele (o médico) está dando prioridade ao consultório, à cirurgia particular, o que o governo pode fazer?”
Por fim a vereadora professora Roseane (Cidadania) pediu a palavra ressaltando que a saúde nunca será 100% e que o atendimento do SUS é melhor que o de plano de saúde.
“Em 14 anos que moro em Santa Cruz. Não tenho plano de saúde. Tinha da Unimed e posso falar com muita propriedade que hoje o SUS pra mim é muito melhor do que um plano de saúde. Eu utilizo o SUS e falo pra vocês que os outros países querem copiar o SUS do nosso país. Acredito que saúde é difícil porque é gerido por pessoas. Mas tenho certeza que o governo tenta fazer da melhor forma possível. Estamos buscando uma melhora e vai ter cada vez mais.”