Celso e Junko Sato Prado – Generalíssimo Pietro Badoglio em Santa Cruz, em 1924 (FOTOS)
– um século depois e estamos lembrando –
Político e militar italiano. Discorrer sobre o generalíssimo é, como se diz, ‘chover no molhado’, sendo ele um dos homens mais conhecidos de sua época.
De Badoglio se diz, opositor imediato ao fascismo para depois a ele aliar-se e, em 1922, ser designado embaixador para o Brasil.
Dois anos de Brasil e Badoglio, aos dia 18 de junho de 1924, chegou de visita a Santa Cruz do Rio Pardo num comboio especial ferroviário, posto à sua disposição pelo governo estadual, vindo ele acompanhado de uma comitiva liderada pelo cônsul italiano em São Paulo, sendo recepcionado por autoridades civis, estaduais e municipais, pelo tenente de uma das seções do 3º Batalhão do Exército, além da Comissão de Escoteiros, da Banda Musical local 7 de Setembro, por membros da Colônia Italiana santa-cruzense, inúmeros cidadãos e representantes da imprensa.
O ilustre embaixador foi saudado pelo agente consular italiano ‘ santa-cruzense’, Alberto Scazzola. Em seguida o visitante, juntamente com seu ajudante de ordens e o prefeito municipal Dr. Pedro Cesar Sampaio, foi conduzido ao Paço Municipal e recebido pela edilidade, ocasião que Badoglio, após os hinos brasileiro, italiano e o garibaldino executados pela banda União dos Artistas, saudou os italianos residentes, recomendando-lhes que não se esquecessem da pátria mãe, e aos brasileiros que se fizessem sempre receptivos aos irmãos italianos e brasilianos.
Da Câmara Municipal o embaixador foi recepcionado no Hotel Scazzola, de Alberto Scazzola, onde em funcionamento a representação consular italiana em Santa Cruz, discursando na ocasião o Celio Ciaccarelli. Tudo visitas rápidas, às 12,00 horas, uma hora após a chegada, Badoglio visitava o Grupo Escolar ocasião que o aluno, Gaspar Serpa, apresentou em italiano as saudações da diretoria, professores e alunos ao embaixador, impressionado a todos.
O embaixador Badoglio ainda se dirigiu ao Hospital Santa Casa, recebido por um representante da Diretoria, antes de retornar à gare ferroviária e partir. (Fonte: semanário santa-cruzense (Fonte: A Cidade, 24/06/1924: 1-2).
Nenhuma agenda divulgada, no entanto, o motivo da viagem do embaixador prendia-se aos locais por onde passaria o jovem príncipe Humberto, herdeiro da coroa italiana, em sua viagem programada ao Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo e o interior paulista, para o mês de julho.
Alguns críticos da época entendiam a visita preparatória de Badoglio, pelo interior paulista, nas reuniões reservadas, não apenas participar a visita do príncipe, festiva sem dúvidas, mas a intenção em propagar o fascismo no Brasil e a importância em aumentar a influência das comunidades italianas e descendentes, sabendo o governo italiano o peso de cada uma delas no Brasil, daí os interesses econômicos da Coroa junto ao governo brasileiro, mantendo os ‘oriundi’ vinculados à pátria mãe.
— A vitória nesse campo dependia de a capacidade da pátria peninsular ter o Brasil parceiro comercial através da pressão exercida junto à opinião pública a favor da Itália.
A comunidade italiana de Santa Cruz era destaque interiorano, desde 1914, quando entraram no município 11.114 imigrantes italianos (Registros da Secretaria dos Negócios da Agricultura – R.SNA, de São Paulo …, 1916: 168), sendo que, em 1922, “57 propriedades com 1.266.000 pés de café” (R. SNA, 1923: 121) em mãos de italianos. Os italianos mais que dobraram a população local.
Badoglio veio ao Brasil precedido de muitos feitos, com destaques nas campanhas italianas na Líbia (1912) e na Primeira Guerra Mundial (1914/1918) era o nome italiano mais importante do momento, e nada melhor que um país do quilate brasileiro para tê-lo embaixador. Se a pedido ou designado para o cargo, a vontade de Badoglio era estreitar laços com o Brasil e outros países da América do Sul, Uruguai, Argentina e Chile, apresentando o príncipe italiano, futuro rei, às comunidades italianas nestes países.
Em julho de 1924, quando o navio que trazia o príncipe já ao mar, eclodiu em São Paulo a Sedição Militar de 05 de julho de 1924, sendo a viagem suspensa a pedido do governo brasileiro, por questão de segurança, prontamente atendida, segundo nota da embaixada italiana assinada pelo embaixador Badoglio:
“Embaixada da Italia. Rio de Janeiro, 20 de Agosoto de 1924 Sr. Ministro.
— Recebi a nota que me enviou V.Ex., na qual o governo brasileiro pede os bons officios da embaixada italiana para que a visita de S. A. real, o príncipe de Piemonte seja adiada para outra epoca.
Transmitti immediatamente ao meu governo o desejo contido na notae terei o cuidado em communicar a resposta a V. Ex., logo que a receba.
Permitta-me, porém, V Ex.algumas considerações que me vem expontaneas do coração, neste momento para mim tão doloroso.
Desde o dia em que o governo brasileiro havia dirigidoa S. M. o rei da Italia para que o augusto principe visitasse este prestigioso paiz, eu pude acompanhar, passo a passo, todo o fervor e todo enthusiasmo com que, tanto o governo como as associações e os particulares, se puzeram a preparar um acolhimento que, certamente, pela sua pompa, pela grandiosidade, pela unanimidade do concurso de todos, teria sido uma das mais explendidas affirmações do progresso, da gentileza e da cultura da vossa nação. E o meu espirito se regozijava ao ver tanto calor e tanta espontaneidade de adhesão, de que se poderiam tirar os melhores auspicios para uma amizade cada vez mais tenaz e profundaentre os dous paizes.
Vieram os tristes dias da sedição militar de S. Paulo, e parecia que o progremma difficilmente poderia ser executado.
Mas, o intimo accordo de sentimentos que sempre presidio ás relações quotidianas entre o governo brasileiro e a embaixada italiana, intimo accordo que V. Ex., com delicadissima cortezia, teve a bondade de salientar na sua nota, fez com que a momentanea difficuldade fosse superda e a tão esperada augusta visita fosse apenas transferida de alguns dias.
Esperavamos , então, plenamente convencidos, que a situação, tal qual como se delineava nitidamente, pela acção energica do governo, se normalizasse completamente.
Isso, porém, como demonstra luminosamente V. Ex., não se realizou inteiramente, e o governo brasileiro, deante da possibilidade de que o augusto hospede pudesse estar presente a qualquer tentativa insana, pondo de lado qualquer outra consideração de interesse e de amor proprio nacional, tomou corajosamente o partido de se dirigir ao governo italiano para que a visita fosse adiada para outra época.
- Ex. na sua elevada nota, diz que o governo brasileiro o fez, sabendo embora que o mal que dahi lhe advirá na opinião publica mundial e expõe o receio de que se melindre a propria opinião italiana.
Esteja tranquillo V. Ex.: como representatnte de S. M. o Rei da Italia, eu dirijo ao Governo do Brasil os mais vivos agradecimentos pela franqueza e a decisão que mostrou a nosso respeito nste momento.
O acto realizado pelo governo brasileiro é o mais nobre que podiamos esperar e será apreciado na Italia, no seujusto valor. Elle penetra profundamente em nossos corações, mais ainda de que o fausto dos preparativos e a solennidade da recepção. Neste gesto, o povo italiano verá uma prova inequivoca da sentida amizade que tem por elle a nobre nação brasileira.
E não será assim somente em relação a opinião publica italiana; estou certo de que a altiva attitude do governo não trará prejuizo algum ao Brasil, na opinião publica mundial. Antes de tudo, o gesto é tão nobre que não pode senão dar lustre a quem o pratica; e depois, situações como esta podem se verificar em qualquer paiz e não são, de forma alguma, symptomas de fraqueza, mas, pelo contrario, representam justamente a exuberância de vida.
E, em todo o caso, saber encaral-as altiva e abertamente, sem procurar nada esconder, é symptoma indiscutível de serenidade e de força.
Por isso, julgo dever repetir ainda que, depois desse acto, o povo italiano se sentirá ainda mais affeiçoado a este generoso povo brasileiro.
Queira acceitar, Sr. Ministro, os protestos de minha mais alta Consideração. (a) – PIETROBADOGLIO.” (Transcrição: A Cidade, 12/09/1924:1).
_____
* As colunas são de responsabilidade de seus autores e
não necessariamente representam a opinião do IBTVNews