20 de setembro de 2024
OpiniãoZ2

Antiella Carrijo Ramos – Trabalhadores, Uni-vos!

Minha filha mais nova é uma menina cheia de questões filosóficas. Este ano ela iniciou o ensino fundamental, numa escola nova, o que gerou a mudança da rotina, dúvidas, tristezas e inquietações. Algumas vezes, com lágrimas nos olhos, ela me perguntava porque a escola dos grandes era tão difícil, deixando claro que sentia falta da escola em que podia brincar mais livremente.

Numa dessas crises de choro, ela me perguntou se eu achava justo ela ter que estudar cinco dias da semana, enquanto só tinha dois dias para descansar, brincar e ser feliz. Tive que admitir que também não achava isso muito justo e que a vida poderia ser melhor equilibrada, caso tivéssemos mais tempo para vivê-la sem tantas obrigações e compromissos.

Expliquei para ela sobre o mundo do trabalho e que o nosso tempo é medido de acordo com os interesses do modelo econômico e social, mas, que em alguns países, a carga horária de trabalho reduzida já era uma realidade que gerava maior equilíbrio e melhora na qualidade de vida, como dizem as pesquisas por aí.

Contei para ela que o cuidado, em alguns lugares do mundo, já era considerado trabalho também, embora ainda fosse desvalorizado, não remunerado e relegado, prioritariamente, às mulheres.

Aproveitei também a oportunidade para explicar sobre a relatividade do tempo e que embora a gente use relógios e calendários, o tempo sempre dependerá do referencial a partir do qual medimos, deixando de ser um valor absoluto e passando a ter um valor relativo, diante do ponto de vista de cada um. Não sei se Albert Einstein ficaria orgulhoso com a minha explicação, mas tinha a esperança que a minha filha compreendesse que o passar do tempo era relativo e que não adiantaria chorar e sofrer por aquilo que, por hora, não tinha solução.

É difícil explicar coisas tão complexas à uma criança com reflexões tão profundas. Por isso, para não complicar ainda mais as coisas, finalizei a conversa sem deixar dúvidas da importância da escola na vida das crianças e do trabalho na vida dos adultos, buscando motivos para convencê-la de que era possível encontrar na escola alegria e satisfação, assim como eu encontrava no trabalho, apesar de todos os desafios.

Mas afinal, o que dizem as pesquisas sobre os países que aderiram a redução da jornada de trabalho, para quatro dias semanais? Descobri que elas apontam que a produtividade não foi afetada e os ganhos, principalmente, em segurança do trabalho e na saúde dos trabalhadores, são muito grandes, em decorrência da melhora na saúde mental, da redução de casos de estresse, ansiedade, fadiga e síndrome de Burnout, além de impactarem positivamente no futuro da humanidade, uma vez que a diminuição do deslocamento, também diminuiu a emissão de gases poluentes, que interferem diretamente na crise climática.

Nesta semana, que celebramos o Dia dos Trabalhadores, resolvi contar para a pequena que tudo começou em 1886, quando trabalhadores de Chicago, nos Estados Unidos, fizeram uma manifestação nas ruas da cidade querendo reivindicar a redução da carga horária de trabalho, de 13 horas para 8 horas diárias. De tal modo, desejo que ela compreenda que as coisas não foram sempre assim e se puderam mudar um dia, quem sabe mudariam de novo, pelo sonho de uma vida mais equilibrada, justa e saudável para toda a classe trabalhadora. Trabalhadores, uni-vos!

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