Professor Junqueira fala sobre retomada do projeto “Orquestra de Câmara Santa Cruz”
O projeto “Orquestra de Câmara Santa Cruz” retomou suas atividades de aulas e ensaios. Nesta oportunidade, entrevistamos o Prof. José Magalli F. Junqueira, Responsável Técnico e Artístico do projeto que poderá nos dizer sobre as novas providências e perspectivas.
Professor, depois do longo recesso no funcionamento do projeto da Orquestra, quais suas considerações?
Infelizmente, passamos, eventualmente, por algumas tempestades no funcionamento deste projeto. Umas tempestades são passageiras, outras, duradouras, mas todas elas machucam um projeto de importância para nossas crianças, jovens e comunidade em geral.
Desde o ano de 2023, por exemplo, passávamos por alguns perrengues pedagógicos, em razão das precariedades do antigo prédio do Cras, do bairro São José. Problemas estruturais e, sobretudo elétricos, começaram a inviabilizar a utilização do prédio para o funcionamento adequado do projeto.
Em março de 2024, recebemos comunicado da Coordenação do Cras para que buscássemos outra sede, ou seja, outro local onde pudéssemos dar continuidades às nossas atividades. Esse foi um momento tenso. Não víamos qualquer possibilidade, naquelas circunstâncias, de encontrar nova sede que nos atendesse materialmente e que não prejudicasse o grande esforço do projeto, que é o da inclusão social de tantas crianças e jovens de nossa periferia urbana. Dialogando com o Prefeito Diego Singolani, conseguimos autorização para que pudéssemos ocupar as dependências do Palácio da Cultura “Umberto Magnani Netto” para sequência de nossas atividades.
É sabido ainda que, a partir de dezembro de 2023, o projeto sofreu uma longa interrupção de suas atividades. Quais foram as medidas para sanar esse hiato?
O obstáculo maior ocorrido em 2023 dizia respeito à interrupção de aportes provenientes do ICMS, que dão base material para a existência do projeto. Há anos que o Governo do Estado disponibiliza a mesma importância de recursos pela lei de incentivo fiscal. É certo que há um crescimento da população e, consequentemente, grande crescimento da demanda de projetos culturais em todo o Estado. Iniciamos a sétima fase do projeto no mês de agosto de 2023, após obtenção de 35% dos recursos. Embora estivéssemos captando recursos desde maio daquele ano, a verba destinada a todo o Estado se esgotou, após poucos meses, isto é, em setembro. Assim, não pudemos captar recursos até o mês fevereiro de 2024, quando prevíamos o término da fase projetada.
A falta desses recursos nos obrigou a uma dolorosa paralisação das atividades, deixando muitos alunos sem as costumeiras aulas e ensaios, durante aproximadamente oito longos meses.
No entanto, no meio desse caminho de paralisação de atividades de aulas pelo chamado ProAc da Secretaria de Estado da Cultura, tínhamos ainda um outro projeto a ser executado, o “A Evolução da Música”, projeto sustentado pela Lei Rouanet que permitia o circuito da Orquestra por cidades da região. Finalizamos esse projeto com dois belíssimos concertos, um, na Unesp de Bauru, e outro, no palco do Palácio da Cultura, em Santa Cruz do Rio Pardo, nos meados deste ano de 2024.
E quanto ao Projeto inacabado do ProAc?
Quanto à continuidade do projeto que, por falta de recursos, fora paralisado, a Coordenação de nossas atividades, em São Paulo, envidou esforços para montar um novo processo, solicitando à Secretaria da Cultura do Estado a continuidade do projeto, permitindo, por mais dois meses restantes, o término de nossa programação pedagógica. Desta forma, com a entrada de recursos e sob a autorização da Secretaria da Cultura, anunciamos, aos quatro ventos, a todos nossos queridos alunos, a retomada, por breve tempo, de nossas atividades de aulas e ensaios. Assim feito, os professores foram convocados para algumas reuniões com vistas à equalização de todas as necessidades dessa retomada, após tantos meses de paralisação. Munidos de novas posturas pedagógicas e adequações de participação, acreditamos poder sanar, em parte, os prejuízos de aprendizagem ocorridos.
Podemos, nesses primeiros momentos de aulas, quando nossos alunos voltam a empunhar seus instrumentos musicais, sentir a alegria com que o fazem. Isso demonstra o papel maravilhoso da Música como elemento da autoestima e como importante catalizador nas relações sociais.
Vivenciando, pela primeira vez, as atividades em nova casa, o Palácio da Cultura, resta-nos outros desafios, o de adaptar as atividades pedagógicas a uma nova realidade física e, sobremaneira nos adequar a sua agenda cultural.
Que perspectivas o Senhor vê para este projeto de inclusão social idealizado há 10 anos?
A experiência desses 10 anos do projeto, desde sua montagem, até sua realização, nos diz que, se não houver adequações na política cultural, sobretudo quanto a dotações, e maior conscientização da sociedade, mormente de empresas que possam dedicar parcela de seu ICMS ou de seu Imposto de Renda, a realização de tais projetos continuará como uma Via Crucis permanente, trazendo realizações permeadas de frustrações.
Digo, com todas as letras, que, diante de nossa realidade, o projeto da Orquestra de Câmara Santa Cruz, não obstante as dificuldades de toda ordem, chega a ser uma realização especialmente enriquecedora ao ver crianças e jovens, muitos deles alijados da vida cultural, apresentando-se em palcos da região, fascinando plateias, levando o nome de nossa cidade, executando peças do melhor repertório e de grande dificuldade. E o mais importante dessa empreitada é o grande concerto que se realiza no coração de tantos jovens e de tantas crianças: a transformação de suas vidas e a perspectiva de um futuro criativo que se abre. Repetiria o que diz, com propriedade, um professor do nosso projeto: “É um milagre!”
Da Assessoria de Comunicação