Luiz Carlos Cichini – Assaltados
– É um assalto! – grita um homem encapuzado, enquanto bate com um suposto revólver na janela do meu carro.
Respiro fundo, apesar do susto. São três horas da tarde, não há ninguém por perto. Meu caçula, no banco traseiro, começa a chorar de medo. Tento acalmá-lo, mas em vão.
– Manda o guri ficar quietinho senão meto bala! – ameaça o moço.
Com muito custo, o pequeno para de chorar, mas o pânico em seus olhos continua. Nos meus também. O assaltante está com pressa e muito irritado. Grita para que eu desocupe o carro. Obedeço, lembrando-me das mais de trinta prestações do financiamento que ainda restam para pagar e do seguro que acabei não fazendo…
Desço do carro, tiro o pequeno do banco traseiro, não sem me lembrar daquele caso do menino que acabou sendo arrastado porque ficou preso ao cinto, antes que a mãe pudesse tirá-lo. O meu estava são e salvo ali, em meus braços. O homem entra no carro e desaparece, levando um de meus poucos bens materiais. O mais valioso estava protegido, agarrado ao meu pescoço como se eu fosse um herói. Mais calmo e podendo raciocinar melhor, comunico a polícia sobre o ocorrido. Pouco tempo depois fico sabendo que o bandido morreu baleado após um confronto com os policiais. Recupero o carro – agora com uma mancha vermelha no banco do motorista –, presto os devidos esclarecimentos e volto para casa.
Este dia não sairá da minha memória tão fácil. O dia em que fui vítima de um assalto à mão armada. Logo eu que, assim como tantos, vivo cansado dos constantes assaltos e violências cometidos contra todos aqueles que só querem ganhar o pão de cada dia e lutar pela sobrevivência. Sim, sobrevivência! As selvas de pedras em que vivemos exigem uma constante luta pela vida. Vence o mais forte, o mais esperto. Tiram-nos a dignidade, boa parte do dinheiro que ganhamos, das opções de descanso. Adoecem-nos, nos colocam uns contra os outros. Tiram-nos os direitos básicos de qualquer cidadão em nome da ganância e dos bolsos e malas cada vez mais recheados de dinheiro. Tiram-nos a paz e as esperanças. São tantos os assaltos cometidos diariamente que mal nos damos conta de quem são os piores bandidos. O que me levou o carro pagou um alto preço por isso. Os demais… ah, esses demoram a pagar, mas a justiça, um dia, chegará para todos…
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