10 de novembro de 2024
OpiniãoZ2

Antiella Carrijo Ramos – Engole o choro e dá seu jeito

Esses dias eu navegava na internet e me deparei com uma imagem no Pinterest com a seguinte legenda: “a vida adulta é um eterno engole o choro e dá seu jeito”. Essa frase carrega o peso da responsabilidade que chega na vida adulta. Comecei a recordar dos choros que já engoli e de todas as vezes que tive que dar um jeito.

A vida adulta é dolorida, dói no corpo, dói na alma, a cabeça ferve com as preocupações e todo dia é um malabarismo de muitas e variadas demandas. Aquele futuro que a gente sonhava, quando era jovem, chegou e ainda há tanto por fazer, ainda há tanto por construir. É por isso que corro contra o tempo e teimo com a vida para sempre estar em movimento. Gosto de pensar que a vida adulta me trouxe a coragem para enfrentar as dificuldades e encarar as minhas próprias vulnerabilidades.

Com a vida adulta também chegou a paciência que me fez compreender que para tudo há o seu tempo. A imagem na internet e os devaneios pelas angústias da vida adulta atravessaram a história que quero contar. Quero falar sobre árvores, mas as ideias se misturam num movimento frenético que imita a vida que tenho levado. Quero contar para vocês sobre a experiência que tive no plantio de árvores, na Vila Divinéia e na Vila Bom Jardim, realizado no Dia Mundial do Meio Ambiente. Pela segunda vez, pude viver essa experiência de conexão e cuidado que nos integra a natureza, nos fazendo sentir parte de algo muito maior. Ter a capacidade de plantar para regenerar o que foi destruído pela ação humana no planeta nos conecta com o sagrado da vida.

Eu nunca havia plantado árvores. Quarenta e dois anos e nenhuma árvore no meu currículo. Me senti envergonhada, porque até a Aroeira-salso que eu tenho no quintal, não foi eu que plantei. Escolhi a muda, mas foi o meu marido que colocou a mão na massa. Essa história é até engraçada e me rendeu muita amolação ao longo dos anos.

Em 2008, quando fui escolher a árvore que plantaria no quintal, meu marido sugeriu que a muda fosse de fruta ou flor. Naquela ocasião, a árvore no quintal tinha o objetivo de tampar a visão da rua, para nossa área de lazer, recém construída. Quando cheguei ao viveiro municipal para escolher, estava focada em pedir uma muda que crescesse rápido e que tivesse as raízes pequenas para não quebrar o chão. Acabei esquecendo de perguntar das frutas e das flores. Desde então, convivo com as críticas da família, de que a Aroeira-salso não tem flor, não trem fruta e também não faz sombra.

É fato que ela cresceu rápido, não quebrou o chão e cumpriu a sua missão de camuflar a área de lazer. Mas, hoje, mesmo ela sendo uma árvore linda e com muitas orquídeas amarradas em seu caule, ainda é comum as pessoas falarem que melhor seria ter plantando um limoeiro. Nunca admiti, mas, com o tempo, passei a concordar que as críticas tinham lá a sua razão, passei a questionar se o charme e a beleza das suas folhas que choram eram motivos suficientes para tê-la no quintal e apesar da dúvida nunca tive coragem de cortá-la.

Já as mudas que plantamos na Vila Divinéia não tiveram a mesma sorte da Aroeira -salso do meu quintal. Elas foram arrancadas dias depois do plantio. A comunidade replantou, mas no dia seguinte, as mudas foram arrancadas novamente e por alguns instantes pude ver a tristeza, o cansaço e o desânimo daqueles que plantam e trabalham pela comunidade. Mas a coragem, forjada na coletividade e na consciência da força do povo, colocou os moradores em movimento e mais uma vez replantaram e plantarão quantas vezes for necessário, porque na vida adulta a gente engole o choro e dá um jeito.

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