Luiz Carlos Cichini – Tragam flores…
Em meio ao desalento, a tantas faces cansadas que se cruzam dia após dia, sem rumo ou sem ao menos se darem conta de que rumo estão tomando, tragam flores. Em meio ao pranto velado qual chuva que cai tímida na madrugada… tragam flores. Aos corações partidos, por crueldade ou fatalidade… tragam flores…
Tragam flores porque ela acabou de chegar. Veio de mansinho, com olhar curioso, mal reconhecendo o lugar e o tempo em que devia estar. Mas era sua vez, não importam as condições, ela veio e tomou seu lugar. Por isso, tragam flores, de todas as cores, de todos os perfumes. É a rainha do baile quem as pede, e tem toda autoridade do mundo para fazer valer a sua vontade.
Em tempos sombrios, em meio à falta de ar puro, diante de tanta tristeza, frente ao colapso humano, ela chega para suavizar a dor, trazer esperança à desesperança, colorir a vida que há muito se encontra em preto e branco. Não travem seu caminho nem lhe impeçam de reinar. Não! Ela é necessária! Deixem seu colorido manto cobrir este vale de lágrimas – e quem sabe secar todo pranto, infinito em sua finitude…
Tragam flores vermelhas, lilases, brancas e, não menos importantes, as amarelas de setembro; que estas se estendam por todos os meses, por todos os dias, horas e segundos. Que os corações sofridos, angustiados, encontrem conforto num olhar que acolhe, num abraço que afaga, numa palavra que acalma…
Que este mundo, sedento de vida e de amor, renasça a cada novo dia, renovando as esperanças de um futuro melhor. Que a alegria tome o lugar de toda tristeza que assola o existir, que as palavras amigas destruam as palavras que ferem e matam. Afinal, ela chegou, trazendo no peito o amor pela vida nestes tempos de morte e solidão.
Tragam flores e preencham o vazio efêmero das mãos da noiva com um lindo buquê. O espetáculo é todo dela, abram caminho e contemplem a beleza da majestosa Primavera…
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