19 de setembro de 2024
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Celso e Junko Sato Prado – Revolução Constitucionalista de 1932

Aos 24 de fevereiro de 1932 ‘A Cidade’ publicou artigo, duas partes, de diferentes autores, evocando a ‘Revolução de 1930’ e o não cumprimento do governo central com as combinações políticas inseridas na solução pós conflitos, ou seja, adoção de medidas econômicas nacionalistas, especialmente de bancos estrangeiros e riquezas minerais, e o retorno à normalidade constitucional, através de eleições diretas.

A primeira situação era a exigência militar tenentista, o ‘Clube 3 de Outubro’, defensor de sistema ditatorial de governo, e a segunda a pretensão paulista de restauração de sua hegemonia política ou o retorno da política dos governadores.
Por si as pretensões não combinavam e a crise agravou-se com a nomeação do pernambucano tenente João Alberto de Lins Barros como interventor em São Paulo, tida humilhante e invasiva, levando à união do Partido Democrático e o Partido Republicano Paulista, antagônicos, sob a égide ‘Tudo por São Paulo’, exigindo imediata reconstitucionalização brasileira, com agouros separatistas, agravado com a nomeação do general Isidoro Dias Lopes no comando da 2ª Região Militar de São Paulo, e do major Migues Costa para a ‘Força Pública do Estado’, ambos contrários a São Paulo nas ‘Revoluções de 1924 e 1930’.
A indisposição paulista foi consagrada num grande manifesto político no comício de 23 de maio, cuja proposta a reconstitucionalização do país e autonomia dos estados. Após o evento ocorreram violentos conflitos desorganizados na capital, sendo assassinados por grupo tenentista os estudantes ‘Mário Martins de Almeida (M), Euclides Miragaia (M), Dráusio Marcondes de Sousa (D) e Antônio Camargo de Andrade (C), para o acrônimo ‘MMDC’ – (Martins, Miragaia, Drausio e Camargo), o símbolo da revolta paulista irrompida em 09 de julho de 1932.
Os insurgentes paulistas tiveram apoio militar, ainda que parcial, sob as ordens dos generais Euclides de Figueiredo, Isidoro Dias Lopes – este de surpreendente adesão, e Bertholdo Kinger, com plano de avançar em direção a Capital do País, com retaguarda assegurada pelos estados comprometidos com o movimento. São Paulo não recebeu a integral adesão das forças armadas e nem dos estados, e, assim, as forças legalistas agiram rápido bloqueando o porto de Santos, impedindo esperados desembarques de tropas auxiliadoras.
Contando apenas com algumas tropas mato-grossenses, a luta dividiu-se em frentes determinadas: ‘O Vale do Paraíba, o Sul Paulista, o Leste Paulista e o Centro Sudoeste, esta última no guarnecimento do Paranapanema’.
Diversas cidades do interior paulista estiveram envolvidas na Revolução Constitucionalista, entre elas Santa Cruz com os seus voluntários para o primeiro contingente – Batalhão Santa-cruzense, consoante o ‘Santa Cruz Jornal’:
—’Sargento Antonio José Saliba; os Cabos Joaquim Olyntho Franco e Abilio Alexandre Pereira; além dos Soldados Amador Saliba, Valério dos Santos, José Molitor de Castro, José Raphael Antonio, Gastão Augusto Lucante, José Rodrigues Junior, José Patrocínio, Ubaldo Taveiros, Ruy Taveiros, Paulo Bittencourt, Domingos Rizzo, Egas Pinheiro – Cabos de Esquadra; José Sebastião, Francisco Martins, José Bulcão, Pedro Rodrigues, Manoel Eduardo, Narcizo Torquato, Serafim Alves Silva Leandro, Roberto Rodrigues da Silva, Benedicto Negrão, Antonio Rodrigues, Raul Leonardo da Silva, João Guides de Moraes, Henrique Albuquerque Silva, Marcelino Tavares, João Reis, Raimundo Beraldo, Luiz Martins Vianna, Vicente Ravedutti, Angelo Dalmatti, Sylvio Augusto Lucante, Orlando de Oliveira, José Pereira do Nascimento, Nillo Borges, Francisco Braga, Joaquim Fonseca, José Jacintho, Virgilio Manoel de Souza, Benedicto Cunha, Benedicto Marques, Jorge Oliveira Machado, Joaquim de Lima Pinto Marques Pinheiro – Soldados’ (Santa Cruz Jornal, 04/09/1932: 1).
—E sabe-se de José Osires Piedade – Biju, aos 20 anos de idade, esteve entre os voluntários, como 2º Tenente (Debate, 08/07/2007, Caderno D).
Pelo mesmo ‘Santa Cruz Jornal’, foram os incumbidos em conquistar voluntários para o Batalhão Santa Cruz do Rio Pardo: o capitão Eugênio Fortes Coelho – juiz de direito, o tenente dr. Carvalho – prenome não identificado, e o suboficial instrutor Manoel de Oliveira.
Os voluntários eram, conforme sobrenomes apresentados em rol, membros de famílias diversas da sociedade local, ricas, pobres e as influentes, e alguns santa-cruzenses apresentaram-se fora do município.
Sem detalhes conhecidos a qual batalhão apresentado, o soldado Serafim era tipógrafo do ‘Santa Cruz Jornal’, e nota, pelo Santa Cruz Jornal, referiu-se ao: “Luiz Gonzaga d’Avila – valoroso voluntario santa-cruzense que deu importante entrevista ao ‘Diário da Noite’ sobre a sua atividade no ‘fronte’ onde perdeu um braço – dando importante exemplo a mocidade de jamais titubear ante a … do Brasil Constitucionalista.”
Um irmão de Gonzaga d’Avila, professor, fora feito prisioneiro em Ilha das Flores (Santa Cruz Jornal, 04 09/1932: 1).
O semanário ‘A Cidade’ informou e estampou foto dos voluntários, Waldemar Bueno, Mario Gualberto, Octavio Cruz, Mario Vieira e Calvito Ramalho, combatentes no setor de Queluz, ala do Batalhão de Piratininga (A Cidade, edição de 19/12/1933, formato de revista, comemorativa do 24º aniversário de semanário – 1909/1933).
Os voluntários santa-cruzenses foram encaminhados para Chavantes, a fim de treinamento intensivo com instrutor do exército, antes de enviados aos campos de batalhas, e os ‘soldados’ em recuperação de saúde eram servidos no ‘Rancho do Soldado Constitucionalista’, em Santa Cruz, onde antes a ‘Agência Rugby de Automóveis’, à rua Conselheiro Antonio Prado esquina com a Alziro de Souza Santos, defronte à Câmara Municipal. O prédio era, então, propriedade de Tertuliano Vieira da Silva, que juntamente com sua mulher e outras famílias, a exemplo da Brochado, cuidavam das atividades serviçais no rancho.
O ‘Santa Cruz Jornal’, ao louvar santa-cruzenses partícipes da ‘Revolução de 1932’ distinguiu a presença constante de dona Antonieta Fortes Coelho, no ‘Rancho do Soldado’, presidente da Cruz Azul local; igualmente, referenciadas as senhoras ativistas daquela instituição, Lizuca Sampaio – tesoureira, Maria Aparecida Bueno – secretária, Dagmar Pinheiro Guimarães – vice-presidente, as professoras Lourdes de Moura e Edith Martins, e as normalistas, Conceição e Santa Dias.
A organização Cruz Azul desempenhou importante colaboração santa-cruzense na Revolução Constitucionalista, com arrecadações de fundos através de leilões e festivais para equipamentos – compras de capacetes de aço para os soldados, outros equipamentos e artigos de barbearia, além de manter oficina de costuras e confecções de roupas, cachecóis, aventais, lençóis e outros artigos de cama e banho.
—”D. Maria Fortunata Palma fez doação à Cruz Azul de 1 terreno com 11 meia de frente e 44 meia, de fundo (1/2 data) situado à Rua Antonio Prado, terreno que deverá ser levado a leilão.” (Santa Cruz Jornal, edição de 04/09/1932: 1).
Os ‘soldados’ foram, assim, mantidos pela comunidade, através de doações de gêneros alimentícios, e algumas famílias até dispunham de suas joias em ouro, principalmente anéis e alianças, a despeito da proibição pelo Governo de São Paulo.
Na ‘Revolução de 1932’, entre os diversos voluntários a caminho das frentes de batalha, passou por Santa Cruz o Batalhão XI de Agosto, formado por alunos da ‘Faculdade de Direito São Francisco – USP’, e pelo menos um deles morto na revolução: “vi um moço do XI de Agosto, sobre uma mesa na Prefeitura de Santa Cruz, morto em Salto Grande”, consoante testemunho de Norival Vieira da Silva, filho de Tertuliano, em Crônicas de Ourinhos (Diário de Ourinhos, publicação de 27/04/2010), sendo o falecido, José Bretz, judeu terceiranista de direito, vítima nos últimos dias da revolução de 1932 (Correio de São Paulo, 11/08/1933: 1).
São Paulo sofreu derrota. Norival afirmou “Os gaúchos invadiram a região em três cidades, Salto Grande, Ourinhos e Santa Cruz do Rio Pardo. Andavam com um lenço vermelho em volta do pescoço” Os vitoriosos, por algum tempo, ocuparam a região até a garantia da pacificação.
A ‘Revolução de 1932’ foi o último grande conflito político armado no Brasil, com participação popular, e a data de seu início, 9 de julho, é lembrada por feriado estadual, na máxima que a derrota paulista, nos campos de batalhas, tenha se transformado em vitória política, com a promulgação da Constituição, em 1934.
Não se pode tanto dizer assim, pois em 1935 Vargas já suspendia suas garantias e decretava estado de sítio, elegendo-se indiretamente Presidente.
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