19 de setembro de 2024
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Celso e Junko Sato Prado – Santa Cruz do Rio Pardo – Estação Zootécnica e Expurgo

Você, com certeza – quase: vamos deixar pequena margem para dúvidas, não sabia que Santa Cruz teve Estação de Zootécnica e Expurgo. Sem problemas, nunca ensinaram isto nas escolas, por se tratar de tema apenas municipal, e, o mais importante, ‘não vai cair no ENEM’.

Nos anos 1910 Santa Cruz do Rio Pardo era uma das principais regiões cafeeiras do Estado de São Paulo, e já os reflexos das lavouras de alfafa e algodão, além da criação de gado vacum, da equideocultura [criações de cavalos, asininos e muares], e das criações de porcos, já se pensando na introdução de caprinos.

A presença ferroviária deu a Santa Cruz o grande impulso necessário à pretensão progressista, porém, não cumpre aqui discussões do quanto isto representou para o município e por qual razão não se tem hoje o progresso municipal esperado; Santa Cruz não cresceu conforme o esperado.

Em 1910 Santa Cruz pensava na agropecuária, experimentando culturas do amendoim, mamona e outras, porém, centrava-se no algodoeiro, torná-lo grande como o café, além no aprimoramento genético dos seus animais de corte para exportação; por isso, certo ou errado, investiu na zootecnia e no expurgo das sementes de algodão.

1. Zootecnia

Em 1911 criou-se para Santa Cruz do Rio Pardo a Estação de Zootecnia, à Rua Duque de Caxias, fundo com o Rio Pardo e divisa com Ribeirão São Domingos, terreno adquirido de Julio de Cerqueira Cezar, por compra, conforme Lei Municipal nº 165 de 27 de fevereiro de 1911 (Cidade Santa Cruz, 05/03/1911: 3), serviço voltado à saúde animal.

—”Art. 1º. Fica o prezidente da Camara Muncipal auctorisado a despender até a quantia de 8.000$000, por conta da verba do art. da lei n. 159 de 16 de Outubro de 1911, com a aquisição por compra, do terreno pertencente a Julio de Cerqueira Cezar, sito á rua Duque de Caxias, fazendo fundo para o rio Pardo e dividindo por um lado com o ribeirão São Domingos desta cidade, para dependência da estação Zootechenica.”

A Estação de Zootecnia, conforme regra estabelecida deveria contar com uma área mínima de 20 hectares de terras, próprias para culturas forrageiras, dívida em pastos e terrenos de culturas, contendo em seu recinto o prédio para a Estação e mais dependências, construído de acordo com a planta e instruções fornecidas pela Secretaria da Agricultura, inclusive estábulo e mangueirões, além de contar com abastecimento de água suficiente para o funcionamento da Estação. Satisfeitas as exigências o município deveria assinar convênio ou termo de compromisso com o Governo Estadual, discriminando obrigações.

O capitão Affonso Celso Baptista, presidente da Câmara Municipal era primo e sócio comercial do coronel Antonio Evangelista da Silva, o Tonico Lista, colíder político perrepista santa-cruzense, desde 1907, juntamente com o advogado e experiente político Olympio Rodrigues Pimentel, mandadores na política local.

Praticamente unanimidade, desconhecendo-se os contrários, a necessidade maior era uma estação zootécnica, para o abrigo de animais reprodutores das raças de espécies pretendidas, nacionais ou importadas, para aprimoramentos genético, com melhores qualidades maiores lucros.

Algo abrangente, desde o preparo e treinamento de mão de obra para aprendizados das práticas de culturas de forraginosas; organização dos registros genealógicos dos animais; execução dos regimes higiotécnicos dos animais; aplicações das melhorias culturais de plantas forraginosas; a aplicação das práticas zootécnicas; o adestro de práticos mungidores e tratadores de grandes animais; algo complexo e exigente de boa infraestrutura.

O município tinha pressa, conforme vista na lei nº 168, de 27/11/1911:

—”Fica o prezidente da Camara auctorizado, em cumprimento do art. 14 da lei nº 159 de 16 de ourubro de 1910, a adquirir um bode de raça Simplon, um jumento e um cavallo andaluz, para [a] estação Zootechnica Municipal, podendo para isso depositar no Thezouro do Estado a quantia precisa.”

O vendedor do terreno, Julio de Cerqueira Cezar, permitiu em 1910, quando as negociações ainda não concluídas, o município fazer uso do imóvel, ocupando a casa sede e promover as construções estábulos e feitios de cercados.

Comprova-se. Antes da alienação efetiva do terreno, em 1911, onde a futura estação zootécnica santa-cruzense, algumas construções para alojamento dos animais adquiridos para reprodução: touro, cavalo garanhão e outros machos de diferentes espécies, aquisições em 1910, pelo prefeito e chefe político Olympio Rodrigues Pimentel, “(…) mandando vir da Europa animaes de raça para melhorar as raças bovina e cavalar.” (A Cidade, 07/09/1910: 1).

—Julio de Cerqueira Cezar, morador, fazendeiro, político e proprietário de outros imóveis em Santa Cruz, era filho do dr. José Alves de Cerqueira Cezar, presidente interino do governo paulista (1891/1892) e fazendeiro regional. Outros dois irmãos de Julio também residiam em Santa Cruz do Rio Pardo.

Algumas aquisições de animais reprodutores, portanto, ocorreram antes do instrumento legal de compra do terreno, conforme denúncias da oposição política local, as quais, aliadas a outras acusações e insinuações de má gestão pública, que o município havia contraído impagável empréstimo bancário, de instituição presidida pelo próprio Dr. Olympio Pimentel, e toda Santa Cruz jazia num caos político, administrativo e econômico, até mesmo o uso do nepotismo, o dentista eleito vereador e presidente camarário Ubirajara Pinto era genro do prefeito Olympio Rodrigues Pimentel, que, além líder político local era presidente do Banco de Custeio Rural, instituição que acudia o município através de suspeitáveis empréstimos. As acusações deram em nada.

—Os oposicionistas não citavam que, o endividamento ocorrera na gestão Abreu Sodré (Francisco de Paula de Abreu Sodré), o escândalo do ramal ferroviário, às custas do município, e os lucros encaminhados para a companhia ferroviária e governo estadual, tornando o município carente de empréstimos milionários.

Independente das querelas políticas, não se tem notícias que o empreendimento zootecnista tenha dado bons resultados, nem se efetivado, tanto que, pouco depois de seu funcionamento o terreno que lhe era próprio serviria de estadia para os animais apreendidos pelos fiscais da Municipalidade, e, no ano de 1926, em uma das partes construído o Matadouro Municipal, desativado nos anos 1980, governo Onofre Rosa de Oliveira (1983/1988). Os terrenos foram divididos e ocupados sob vistas grossas do município ao longo de décadas.

2. Expurgo

Santa Cruz, desde os anos 1910, revelara-se grande produtor de algodão, necessitando, com urgência e conforme normas legais, instalar um Expurgo em Santa Cruz, com maquinários e um fiscal de serviço, para o descaroçamento do algodão, viabilizando vendas não apenas das plumas para indústrias têxteis, também dos caroços como subproduto de grande utilidade, quer às novas plantações, fins industriais [óleo], exportação e nutrição de ruminantes.

Os comerciantes de algodão em Santa Cruz, destacado Saul Ferreira de Sá, pretendiam autorizações para a venda de sementes / caroços de algodão, sendo informados pelas autoridades de governo, a necessidade da construção de uma câmara de expurgo, com maquinários, de acordo com as normas vigentes, e a necessidade de um fiscal nomeado pela Secretaria dos Negócios da Agricultura do Estado de São Paulo. Também não se podia receber sementes de algodão não expurgadas.

Havia, no entanto, conflito de competências entre os governos federal e estadual, sem processo único a adotar no expurgo do caroço de algodão, originando desinteligências. Em meado de 1919 e o problema sem solução, Santa Cruz tinha que enviar o seu produto para expurgação a outra localidade.

Resolveu-se o impasse, com a iniciativa da Secretaria da Agricultura de São Paulo, repassando ao prefeito santa-cruzense, coronel Tonico Lista, instruções referentes à desinfecção das sementes de algodão, a fim de evitar-se a propagação da ‘lagarta rósea’, danosa aos algodoais, além das técnicas para o expurgo das sementes nas máquinas onde mais se beneficiavam o algodão, “como ao destino que venham ellas a ter” (O Contemporâneo, 12/06/1919: 2).

Para os fiscais inspecionadores foram nomeados: “Octavio Soares para a máquina do sr. Lupercio Camargo, em Luiz Pinto; Antonio Novaes Cortez, para as dos srs. Pereira Leite & Paschoal, de Chavantes; Evaristo Ferreira de Souza, para a da Coffee Limited Company, [Mandaghay]; e Francisco Fernandes Pinheiro, para a do Coronel Albino Alves Garcia, de Bernardino de Campos” (O Contemporâneo, 12 de junho de 1919: 2), matéria complementada: Esses fiscaes perceberão, mensalmente, 100$000 pagos pelos cofres estaduais, desde a data do inicio de beneficiamento até 31 de Dezembro do corrente anno.”

O primeiro fiscal do Expurgo de Santa Cruz, o senhor Rodolpho Antonio da Silva conforme a edição de nº 42 do semanário ‘Cidade de Santa Cruz’, 09/11/1921: 2: “Foi nomeado fiscal do expurgo de caroço de algodão das cinco machinas existente neste municipio, o nosso correligionario Snr. Rodolpho Antonio da Silva”.

Em 1921 o ‘Fiscal do Expurgo’ de Santa Cruz do Rio Pardo, Rodolpho Antonio da Silva, citado residente à rua Saldanha Marinho, fez publicar o aviso:

—”A todos os snrs. proprietarios de machinas de beneficiar algodão, neste municipio, que de ora em diante não poderão fazer despacho de sementes sem a competente guia fornecida por esta fiscalização, e os que por ventura encontram em seu poder passados anteriormente ao presente aviso ficam sem effeito desde esta data, devendo serem substituidos por outros” (Cidade de Santa Cruz, 20/11/1921: 3).

Em 1923 as regras para vendas de sementes eram livres, porém certificadas de expurgção:

— “(…) ao sr. Saul Ferreira de Sá, de Santa Cruz do Rio Pardo, respondendo carta de 15 do corrente e communicando que a venda de sementes aos lavradores ainda é livre, devendo ser expurgadas na presença do fiscal.” (DOSP, 29/05/1923: 3895).

3. Delegacia Regional Agrícola

Casa da Lavoura – Agricultura, quem sabe, num futuro, falaremos sobre tão importante serviço público. Hoje, no azo de espaço nesta coluna, algumas notas sobre a Delegacia Regional Agrícola sediada em Santa Cruz do Rio Pardo.

Em 1957, pelo Decreto Estadual nº 30.277, de 03 de dezembro do mesmo ano, dispõe sobre a criação da ’Delegacia Regional Agrícola de Santa Cruz do Rio Pardo’.

No ano de 1961 foi designado Delegado Agrícola em Santa Cruz do rio Pardo, o Engenheiro Agrônomo Georgino Coelho (O Regional, 18/06/1961: 1).

Em 1964, conforme publicação no ’Diário Oficial do Estado’, o médico-veterinário Clodomiro Caricatti encontrava-se no exercício das funções de zootecnista, do ’Departamento da Produção Animal da Secretaria Estadual da Agricultura’, em Santa Cruz do Rio Pardo (DOSP, 16/01/1964: 48).

— Antes de assumir cargo em Santa Cruz, Caricatti foi zootecnista sediado em Avaré (DOSP, 18/01/1963: 22). Algum tempo depois designado ’Delegado Agrícola’ em Santa Cruz do Rio Pardo.

Celso Prado e Junko Sato Prado: pradocel@gmail.com

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