Celso e Junko Sato Prado – Santa Cruz: agência postal – Correios
Os serviços de correspondências, muito antes da oficialização dos Correios, eram favores prestados pelos tropeiros, mascates ou viajantes pelo Sertão, deixadas em lugares acertados e sob abrigos, sem obrigação de resultados.
A história do correio no interior paulista tem data de 24 de setembro de 1800, com a criação do Correio de Porto Feliz. Meio século depois, o serviço ainda não havia chegado a Botucatu, onde instalado apenas no ano de 1858.
Conquista difícil. Em 1862 nem Lençóis Paulista e nem São Domingos – Tupá, sentinelas avançadas do sertão, possuíam agências postais, recrutando-se estafetas particulares para o ‘leva e traz’ de correspondências até Botucatu. Em Santa Cruz este serviço, por estafetas particulares, prevaleceu até 1876.
Santa Cruz, o Subdelegado de Polícia, requereu em agosto ou setembro de 1876 ao Governo de São Paulo a instalação de Agência, reivindicatório encaminhado pelo Governo à Administração Geral dos Correios de São Paulo que, aos 13 de setembro de 1876, informou ao remetente aguardar decisão sobre o quadro de agências a serem criadas no qual “se acha incluida aquella localidade para o fim que se trata”, pelo Ofício de nº 12, de 20 de maio de 1876 (Administração Geral dos Correios, Arquivos do Estado de São Paulo – AESP).
No ano de 1876, já na condição de vila, Santa Cruz teve sua primeira Agência Postal, com serviços de transporte do correio até São José do Rio Novo [Campos Novos Paulista]. Antigo mapa santa-cruzense para o Patrimônio de Santo Antonio, em 1900, péssimo estado de conservação, sugere a Agência do Correio onde a atual Rua Duque de Caxias, sem nenhum outro endereço anterior conhecido.
A primeira nomeação para Agente do Correio local recaiu, interinamente, sobre o coronel Emygdio José da Piedade (Correio Paulistano, 27/09/1877: 1), do Partido Conservador, demitido por conveniência política em 1879, ao cair o seu Partido substituído pelo Liberal na governança provincial, daí a nomeação de coronel Joaquim José Botelho (Correio Paulistano, 02/10/1879: 2). A chefia de uma agência durava enquanto um partido político no comando provincial.
Em 1881, por Ato da Presidência da Província de São Paulo em 30 de junho e 1º de julho, declarou-se sem efeito a nomeação de Francisco Antonio de Castro para Agente do Correio local, em razão de sua escolha para o cargo de Delegado de Polícia, enquanto para o cargo de Agente nomeado José Sebastião de Almeida (Correio Paulistano, 06/07/1881: 2).
A Agência local apresentava dificuldades para entregas de malas, dependente do tempo e, às vezes, condicionado aos mandos e desmandos políticos em passar ou não pelo lugar, e até o Delegado de Polícia, Francisco Antonio de Castro, numa das determinações declarou suprimida a Agência em Santa Cruz (Correio Paulistano, 24/12/1881: 1-2), situação depois resolvida pelo Correio Geral – Administração São Paulo.
Os problemas do Correio vinham desde sua instalação, motivos de constantes reclamações, diante dos atrasos das correspondências, mesmo com instalações de duas linhas, a partir de Botucatu, uma por atual Cerqueira Cesar (Três Ranchos) e outra por Lençóis Paulista, sem critérios de seleção. Por exemplo, a edição de um jornal de segunda feira, por Lençóis, chegava na quinta-feira, enquanto a edição de terça, por Cerqueira Cesar, estava em Santa Cruz na quarta-feira; as distribuições eram aleatórias.
Por edital de outubro de 1891 o Correio Geral, Administração de São Paulo, anunciava recebimento de proposta para serviços de entregas de postagens, terceirização para condução de malas, previstas para Santa Cruz cinco vezes ao mês, no exercício de 1892 (DOSP, 20/10/1891: 5-6).
Quase três décadas depois de sua instalação, os serviços de correios em Santa Cruz continuavam ineficientes, com desvios, perdas e devoluções de correspondências, gerando reclamações pela imprensa, inclusive de prevaricações do agente privilegiando pessoas em detrimento a outras.
Frediano Colli, italiano radicado em Santa Cruz, Agente nomeado para o Correio, segundo uma das denúncias, ao receber as malas do correio, abriu-as para entregar somente às pessoas de maior influência, mandando as demais pessoas procurar pelas suas correspondências no dia seguinte. Segundo nota pela imprensa, o agente sabia não haver expediente no dia seguinte, e tratou com deselegância aqueles que não foram atendidos (Correio do Sertão, 24/05/1902: 2).
As correspondências entre Santa Cruz do Rio Pardo e Santa Cruz da Boa Vista – atual Domélia, ainda no primeiro trimestre de 1938, eram conduzidas por linha a cavalo, quando suprimida (DOSP, 09/03/1938).
Nos anos de 1940 o Correio funcionava num prédio à esquina das ruas Conselheiro Dantas e Benjamin Constant, e, em 1949, pretendendo prédio próprio, o prefeito Lucio Casanova Neto, pelo Decreto nº 21, de 15 de julho, desapropriou terreno da família Barbosa (Adelaide, Cândido, Noêmia Carmem e Hercília), nas medidas de 25 metros de frente por 35 de fundos, na esquina das atuais ruas Farmacêutico Alziro de Souza Santos, defronte a Praça Deputado Leônidas Camarinha, com a Coronel Julio Marcondes Salgado.
O terreno foi doado à União para a construção de edifício para instalação da agência de serviços do Departamento de Correio e Telégrafos – DCT, autarquia que se tornou Empresa de Correios e Telégrafos em 20 de março de 1969.
A construção ficou aos encargos profissionais do engenheiro José Carlos Nascimento Camarinha, sendo o seu primo engenheiro Píndaro Camarinha, Chefe do Serviço de Materiais dos Correios e Telégrafos, e Edie Galesso o Diretor do DCT regional de Bauru. O novo edifício foi concluído e entregue em 1952, no mesmo local onde atualmente instalado.
Os primos Píndaro e José Carlos, este vice-prefeito, sócios numa construtora responsável por diversas obras públicas, relacionadas com as Agências Postais Telegráficas, foram investigados por fraudes em licitações, desvios de verba pública e materiais entre outros ilícitos relacionados, em 1964 foram presos “implicados em vultuosos desvios de dinheiro e materiais do DCT. Ambos faziam parte de uma ‘construtora’ de novos prédios de agências postais telegráficas em numerosas cidades do interior” (O Regional, 06/09/1964: 1). Também preso, por igual motivo, o Diretor do DCT de Bauru, Edie Galesso.
O Regional sequenciou a matéria:
— “A reportagem conseguiu apurar também que vários outros elementos ligados à família Camarinha faziam parte da ‘construtora’ de prédios do DCT, estando entre eles o sr. Cyro de Mello Carinha, advogado, e os pedreiros Vicente Ribeiro e Antonio Ribeiro Filho (Bulota)” (O Regional, 06/09/1964: 1).
O semanário ‘A Folha’, porta-voz da oposição política, aos 13 de setembro de 1964, contrapôs-se ao situacionista ‘O Regional’, matéria “Cães esfaimados”:
-“Não é mais para se extranhar que os ‘cães esfaimados’ ainda continuem ladrando aos calcanhares dos homens que se impuseram à consideração e ao respeito de todos, nesta terra, pela sua ação e trabalho em favor da população. O que se passa a respeito do engenheiro José Carlos Nascimento Camarinha e do engenheiro Pindaro Camarinha é de estarrecer e arrepiar. Não possuindo ‘a canalha de Sta Cruz’ meios para opôr-se de frente ao completo desmoronamento de suas pérfidas pretensões, quais sejam o domínio político do município, enveredaram pelo caminho estreito, escuro e sórdido da denúncia anônima, da calúnia e das mais desavergonhadas mentiras. Invejosos e peçonhentos investiram principalmente contra o vice-prefeito José Carlos, para expô-lo ao ridículo, procurando ainda, desse modo, desviar a atenção da opinião pública em torno do rumoroso processo contra conhecido peculatório e falsificador [Lucio Casanova Neto]. Forçoso é reconhecer que êsses canibais engendraram bem a trama, na qual procuraram envolver outros elementos que sempre viveram na mais honrada pobreza, como o vereador Antonio Ribeiro e seu irmão Vicente Ribeiro. Tudo, porém, foi desvendado. É certo que o trabalho foi árduo e grandes também foram os aborrecimentos. Apesar de tudo nos sentimos bem pagos, como José Carlos, porque ressaltaram das investigações procedidas, por criteriosos oficiais do nosso exército, o conceito, a dignidade, o comportamento honrado do engenheiro José Carlos Nascimento Camarinha. Nem poderia ser de outra forma para quem conhece o nosso vice-prefeito. A sua conduta foi sempre retilínea e decente. Não se aparelha nem se aproxima José Carlos dêsses indignos, que vivem como ratos fugindo da polícia ou da justiça, dos quais trataremos pormenorisadamente [sic] nos próximos números. Por enquanto nos ocuparemos dos ‘tronchos’, dos ‘orelhudos’ e catervas, chefes conhecidos dessa corrente carregada de ódio que enche a esquina da calúnia e da inveja com odor próprio das sentinas em que essa gente mesquinha e malsã vive extraindo o alimento que tão bem se ajusta ao seu paladar.
O engenheiro José Carlos Camarinha continuará no seu posto de cidadão probo, merecendo a estima, o respeito e amizade dos seus companheiros e do povo. Justas homenagens lhe serão prestadas como prova do elevado conceito em que é tido na sua terra. Explicaremos por miúdo, para conhecimento do povo, o que esse reduzido grupelho de descontentes agora acrescido por mercenário de moral duvidosa, pretendeu criar em torno da figura do estimado vice-prefeito. É o mesmo grupelho que se atira desaçaimado contra dignos representante do Legislativo, e dos quais se dizia amigo até bem pouco tempo.
Desejamos sómente empregar o nosso trabalho e esforço a serviço do município, num movimento construtivo em pról da coletividade, sem outra preocupação que não fosse o bem estar do povo. Não nos é possível, infelizmente, agir assim. O rumo que pretendiamos seguir nos é desviado. Pois bem! D’oravante ninguém se queixe da nossa atitude ou da nossa linguagem”.
Mas, José Carlos Nascimento Camarinha também se implicara, conforme denúncias, nas obras de construção da ponte sobre o Rio Pardo, Rodovia Engenheiro João Baptista Cabral Rennó, conhecida Rodovia Ipaussu/ Bauru; outra história, coisas de política.
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