Antiella Carrijo Ramos – Expedição Rio Pardo
As pedras das lavadeiras do rio Pardo continuam no mesmo lugar. Durante o percurso, na trilha, que se forma com o movimento dos passos das pessoas que caminham naquela margem, eu pude constatar as pedras imóveis no rio. A peregrinação pela mata ciliar foi formando uma trilha rudimentar, ora larga, ora bem estreita e tortuosa entre a vegetação que cresceu depois da desapropriação das casas que deram lugar a Área de Preservação Permanente. No trajeto, é possível ver os restos e fragmentos que foram deixados pelo caminho. Lixo, objetos e rejeitos que nos dão sinais do processo de industrialização da vida capitalista.
Foi neste cenário, enquanto proseava com o Tonho e o Jarbas, que surgiu a ideia de fazer um projeto sobre o rio. A primeira ideia que nos veio à cabeça foi a organização de um mutirão para a limpeza daquele trecho, mas, enquanto compartilhávamos nossas vontades, percebemos que a limpeza seria uma ação importante, mas ela não seria suficiente para despertar a consciência das pessoas sobre a importância do rio em nossas vidas. Limpar seria uma ação e o rio era assunto para um processo inteiro.
Essa prosa, na beira do rio, inspirou e fez nascer o desejo de conhecer outras histórias e as memórias afetivas das pessoas que vivem naquele território ribeirinho. Pessoas, cujas as vozes, foram, por muito tempo, negligenciadas, desprezadas e, por vezes, silenciadas e impedidas de comporem as narrativas oficiais. No entanto, para isso acontecer, era preciso conhecer o rio, dialogar, pesquisar e escolher uma metodologia, para o percurso educativo que já fervilhava na cabeça.
No meio dessa chuva de ideias, a cartografia social me pareceu uma ferramenta interessante para a produção desse tipo de conhecimento, além de oferecer possibilidades que poderiam dar poder, visibilidade e voz aos grupos sociais vulnerabilizados da cidade que, quase nunca, são considerados nos mapas, ela também poderia nos dar a oportunidade de analisar o território a partir da subjetividade dos sujeitos e dos seus afetos pessoais.
O projeto “Expedição rio Pardo” mapeou afetividades e as transformou em experiências culturais e artísticas, utilizando processos criativos e diferentes linguagens, considerando o rio Pardo como um território afetivo que nos é importante, nos afeta e que merece ser cartografado e compartilhado, a partir da perspectiva de quem possui uma relação estreita com o rio, seja pelo amor que sente por ele ou pela proximidade que vive dele.
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Parabéns Antiella por seu trabalho feito as margens do rio pardo. Nosso rio pardo é abençoado,além de suas belezas naturais temos também as lembranças do tempo que éramos crianças e aprendemos a atravessar o rio pardo a nado livre. Foi a minha diversão e de muitas amigas na nossa infância. Nosso rio pardo querido.