19 de setembro de 2024
OpiniãoZ2

Antiella Carrijo Ramos – A fé sem obra é morta, mas a obra sem fé também é

No fim do ano passado, uma amiga me contou que ela tinha um amigo que era frei dominicano. Na mensagem, ela dizia que o frei, amigo dela, havia pedido a indicação de uma psicóloga. A ideia era realizar um trabalho com os jovens que viriam para o processo de admissão do Pré-Noviciado. O Pré- noviciado é a primeira etapa da vida religiosa na Ordem dos Dominicanos, conhecida como a Ordem dos Pregadores.

Minha amiga não sabia explicar direito, mas me disse que havia indicado o meu nome e o frei entraria em contato comigo. Alguns dias depois, recebi o convite do frei Marcos Belei para uma visita ao convento. Era a segunda vez que eu iria lá; a primeira havia sido numa reunião com o frei Estevão, na época em que eu ainda trabalhava no frei Chico.

Na primeira visita, entrei numa sala bastante iluminada, localizada ao lado esquerdo do hall de entrada e não foi possível ver a amplitude e a beleza do lugar. Na segunda visita, quando passei pela porta, que separa o hall de entrada das demais dependências, fui surpreendida com a arquitetura do prédio e com o horizonte alcançado pelos olhos, quando visto do segundo andar.

Enquanto caminhava pelos corredores, observava os pilares, as árvores e me senti invadida por uma paz, que diminuiu a ansiedade e possibilitou uma conversa tranquila. Frei Marcos me explicou sobre as etapas da vida religiosa na Ordem dos Dominicanos e me contou que, em alguns meses, aconteceria a seleção dos pré-noviciados. A ideia dele era que eu participasse do processo como psicóloga, auxiliando na análise dos perfis de cada jovem e observando a dimensão humana de cada candidato.

A primeira reação que tive foi dizer ao frei que não me sentia capaz para realizar uma avaliação desta natureza. Contei que me faltava conhecimento, referências sobre a vida religiosa e acabei admitindo que o que eu conhecia sobre os Dominicanos havia lido no livro Batismo de Sangue, do frei Beto. Diante da minha reação, frei Marcos foi explicando sobre os carismas dominicanos, falou sobre a pregação da palavra, o estudo, a oração e a vida comunitária. Enquanto escutava, percebi que poderia contribuir de alguma maneira.

Pensei comigo mesma que se eu conseguisse colocar os meninos para refletir a vida comunitária, poderia estimular o grupo a expressar valores e expectativas que explicitasse elementos que pudessem auxiliar na análise para admissão dos novos seminaristas. Estava convicta que a minha experiência na Vila Divinéia e na Vila Bom Jardim me ajudaria nesse processo e a arte poderia ser uma grande aliada.

E foi assim que começou mais um percurso formativo que transformaria a minha vida. Nos meses que antecederam o primeiro encontro, fui estudar sobre a história dos Dominicanos no Brasil. Frei Marcos me emprestou alguns livros e eu pude aprender um pouco sobre a Ordem, conhecer a vida de São Domingos de Gusmão, sobre a história de santos, santas e religiosos que dedicaram a vida a missão religiosa e aos ensinamentos de Jesus.

Fiquei encantada com a vida de Santo Tomás de Aquino e do frade Henri Burin des Roziers. O resultado do primeiro encontro comprovou que as minhas convicções estavam certas. Os jovens foram selecionados, ingressaram na primeira etapa e eu pude acompanha-los durante os meses do Pré-Noviciado.

Aprendi muitas coisas convivendo com esses meninos que buscam um caminho na vida religiosa. Eles me ajudaram a me reconectar com a minha própria religiosidade e eu, que sempre acreditei que a obra do meu trabalho na Assistência Social era suficiente aos olhos de Deus, aprendi, neste capítulo da minha vida, que a fé sem obra é morta, mas a obra sem fé também é.

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