19 de setembro de 2024
OpiniãoZ2

Celso e Junko Sato Prado – Maria Branca Ortega, “a espanholinha santa-cruzense”

Não, dela nunca ouvimos falar como artista brasileira de sucesso, nos anos 1930, cantora, poetisa e atriz de teatro. Quando a escutamos pela primeira vez, numa reprodução à antigas, pelo Youtube, sentimos sua voz melodiosa e afinada, em meio aos ruídos da gravação, de imediato apaixonamos e nem ainda sabíamos que ela era santa-cruzense, ou espanhola aqui radicada, com a família, desde tenra idade.

Seu nome, Maria Branca Ortega, filha do espanhol Luiz ou Frederico Ortega e de dona Mercedes Cruz Ortega ou Orta, sendo conhecidas as suas irmãs Mercedes e Célia e lembrados os irmãos Frederico e Cecílio.

— Documentos informam que os avós maternos de Branca chegaram ao Brasil juntos com a família: o maestro Ricardo Cruz Gonzales, conhecido como Ricardo Ortega pelo sobrenome famoso da neta, e dona Dolores Carmina Orta.

Com as irmãs, Mercedes e Célia, Maria Branca também formava o Trio Ortega ou As Irmãs Ortega.
Jornais paulistanos da época reportavam o talento de Maria Branca, cantora solo, e citavam suas irmãs na formação do trio, porém, as informações eram mais voltadas para as artes de interpretações de Maria Branca, poesias algumas das quais ela mesma escrevia, músicas e letras próprias, menina precoce que gostava de cantar e interpretar, ouvindo no gramofone da família, ou aquelas que seu avô, maestro, cantava.

Sua elogiada voz percebida por algum cantor ou cantora que se apresentava no ‘circo de cavalinhos’ estacionado em Santa Cruz, na interpretação da música ‘Abismo de Rosas’, composição de 1905 de Américo Jacomino, o ‘Canhoto’, que a acompanhara na interpretação emocionante e magnífica.

Cheia de sonhos, Maria Branca, com 12 ou 13 anos de idade, contrariou a família e fugiu quando o circo deixou a cidade. De volta ao lar e a correção, sova, que lhe deixaram marcas no corpo, Maria Branca precisou esperar mais algum tempo mais para aventurar-se no mundo artístico em São Paulo, quando já falecido seu pai – 1915, e a mãe precisando cuidar dos filhos, além dos conselhos do avô maestro, de valias na decisão que toda a família iria para a Capital paulista.

Não foi fácil para a aspirante de artista mulher, num universo, ainda pequeno, dominado por homens.

Somente no início da década de 1930, talentos femininos iniciaram a árdua carreira de ‘cantora de rádio’, e, Maria Branca foi uma das pioneiras vencendo obstáculos e paradigmas, conquistando os ouvintes, abrindo passagens para outros grandes talentos, ou caminhando juntas, aí citadas as irmãs Carmem e Aurora Miranda; Vicentina de Paula Oliveira – a Dalva de Oliveira; Alda Verona; Zaíra de Oliveira e outras como as irmãs Ortega, as ‘espanholinhas de Santa Cruz do Rio Pardo’.
As ‘cantoras de rádio’, doravante e enquanto durou a época, surgiam a cada temporada, já com maior infraestrutura, cujos nomes lembrados até os dias atuais: Aracy de Almeida, Carmen Costa, Ademilde Fonseca, Emilinha Borba, Marlene, Elizeth Cardoso, Carmélia Alves – a Carmem Costa, Hebe Camargo, Angela Maria, Doris Monteiro, Nora Ney, Inezita Barroso, Leny Eversong, Dolores Duran, Lana Bittencourt, Ellen de Lima, Marinês, Claudette Soares e Alaíde Costa.

Nos anos 1930 o rádio no Brasil atingia o seu apogeu. Foram diversos os sucessos de Maria Branca, conhecidos na página https://discografiabrasileira.com.br/artista/24857/trio-ortega, alguns gravados e disponibilizados, também no Youtube: https://www.youtube.com/results?search_query=maria+branca+ortega

Maria Branca cantou e se apresentou com uma das musas da música no Brasil, a soprano Zaíra de Oliveira, “a cantora brasileira que ganhou concurso de canto lírico mas não foi para Paris por ser negra” – Bula Revista – https://www.revistabula.com/32941-a-historia-da-cantora-brasileira-que-ganhou-concurso-de-canto-lirico-mas-nao-foi-para-paris-por-ser-negra, vindo integrar, no Brasil, o trio vocal ‘As Três Marquesas’, com Alda Verona e Maria Branca.

Maria Branca despontou, também juntamente com suas irmãs, sucessos e críticas favoráveis:

“O trio Ortega, do qual fazem parte Maria Branca, nome bastante conhecido em nossos meios artísticos, e Mercedes e Celia Ortega, que se popularizaram em canções brasileiras, organizou para aproxima semana, no theatro Santa Helena, o seu festival artístico. Serão executados interessantes numeros de canções brasileiras da actualidade, e tomarão parte no programma os professores de violão Roberto Boldrão e João dos Santos, os quaes promettem para o publico do Santa Helena, uma noite de arte. Alem desses nomes, tomarão parte no festival a Maria Branca, cuja voz está registrada em discos, outros artistas do palco actualmente nesta Capital.” (A Gazeta – S. Paulo, 7/10/1930: 4).

Maria Branca ‘caiu’ no agrado público, com seu jeito meigo e interpretações particulares às canções. Além de cantora e artista de teatro também era poetiza, e, igualmente encantando o público, tanto, diziam-na figura de relevo no meio artístico; tornou-se famosa uma composição poética sua intitulada ‘Só Você’, além dela mesma compor músicas e escrever letras, a primeira delas quando tinha apenas doze anos, ‘Vivo no mundo a Sorrir’, infelizmente apenas a letra conhecemos, diferentemente da sua valsa canção ‘Por uma boa hora’ de “Maria Branca com Maria Branca, acompanhada pela Orquestra Victor Brasileira, em disco Victor 33863 B (matriz 79703-1), gravado em 27.09.19345 e lançado em dezembro de 1934”:

Maria Branca relacionou-se com Theodoro Fernandes e com ele teve descendência, e anos depois, com saúde exigindo cuidados, mudou-se para Campos do Jordão, em 1937, diminuindo suas participações no teatro e depois a música, até dedicar-se mais e quase exclusivamente às poesias.

Maria Branca Ortega faleceu em 1990, em Campos de Jordão, e sua bibliografia aponta, Santa Cruz do Rio Pardo – 1910, Campos do Jordão – 1990.

Responsáveis: Celso Prado e Junko Sato Prado – pradocel@gmail.com
Acesse nossos trabalhos – https://historiasantacruzdoriopardo.blogspot.com/

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