Antiella Carrijo Ramos – Quem ganha com isso?
Em 2018, fui convidada, pela Associação de Pesquisadores e Formadores da Área da Criança e do Adolescente – o NECA/SP, para participar do Seminário Nacional de Trabalho Social com Famílias, organizado pela psicóloga Ângela Maricondi. Foi a primeira vez, que o trabalho do CRAS Betinha foi apresentado na capital paulista, para um público bastante diverso. Eu tive a honra de ser a porta voz da equipe contando a história do FALA VILA, projeto que foi reconhecido por sua capacidade de articulação dos territórios da Divinéia e do Bom Jardim, através da arte e da cultura. Até aquele momento, eu nunca havia falado para uma plateia tão grande que me observava com os olhos atentos, tampouco havia pensado que um dia me tornaria educadora da classe trabalhadora.
Mais tarde, já na pandemia, recebi oficialmente do NECA, o primeiro convite para participar, como professora, de uma formação profissional para trabalhadores da Assistência Social. Naquela ocasião, a formação online, mediada pela tecnologia dos aplicativos de reuniões que se popularizavam na época, permitiu que eu participasse de muitas capacitações, mesmo vivendo longe dos grandes centros.
As dificuldades com a transmissão, a falta de equipamentos apropriados e a insuficiência de experiência eram gatilhos para crises de ansiedade, que foram se atenuando a cada encontro e a cada conquista. Alice Bittencourt, minha parceira nesta formação, já tinha experiência, tirava tudo de letra e sempre me dizia: confia! Confia! De lá pra cá, muita água rolou debaixo dessa ponte e eu já perdi as contas de quantos trabalhadores foram meus alunos nos últimos quatro anos.
A educação permanente qualifica a prática profissional, oferece ferramentas e oportunidades para a instrumentalização, para o desenvolvimento de competências e habilidades, preenchendo as lacunas deixadas pela educação formal, favorecendo o desenvolvimento integral do trabalhador, ampliando o seu repertório, a sua visão de mundo e a sua capacidade de reflexão crítica da realidade.
A Assistência Social, marcada historicamente por ações assistencialistas, alicerçadas nos princípios da caridade e da benevolência, ainda enfrenta desafios para a sua consolidação como política de direito e a carência de processos formativos permanentes para a sua classe trabalhadora é um desses desafios, que precisa ser enfrentado com coragem, ousadia, investimento e criatividade.
As demandas vivenciadas pelas equipes impõem a formação profissional como estratégia central para que a Assistência Social cumpra o seu papel de proteção da população e dos territórios vulneráveis, a partir do desenvolvimento de serviços mais eficientes, que prezem a humanização, a articulação com a rede e com as comunidades e o desenvolvimento de processos, verdadeiramente, emancipatórios.
Nesse contexto, foi criada, em 2013, a Política Nacional de Educação Permanente do SUAS – PNEP/SUAS, estabelecendo os princípios e diretrizes para a instituição da perspectiva político-pedagógica fundada na educação permanente na Assistência Social. Trata-se de um marco histórico que é resultado de um processo de construção coletiva de debate, pactuação e deliberação entre os diversos setores que compõem o Sistema Único da Assistência Social (SUAS).
A educação permanente fortalece as ações de equipes, promove mudanças nas instituições, transforma práticas e implementa técnicas. Mas, quem ganha com isso? Os trabalhadores, mas, sobretudo, os usuários dos serviços públicos que poderão usufruir de uma política pública mais eficiente, comprometida, humanizada, inovadora e emancipatória.
Ilustração:
Quadro “Operários” de Tarsila do Amaral
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