23 de novembro de 2024
OpiniãoZ2

Antiella Carrijo Ramos – Contra fatos não há argumentos


Eu nasci no dia 28 de fevereiro de 1982. Era domingo de carnaval e minha mãe conta que cheguei ao mundo numa noite quente de verão. Talvez seja por isso que eu ame o calor e a luz do sol batendo no meu rosto. O verão é a minha estação do ano favorita e eu sempre fui aquela pessoa convicta de que o calor é muito melhor que o frio. Mas, em tempos de crise climática, está difícil sustentar essa ideia. O calor em excesso, vivido nos últimos tempos, causa mal estar e leva qualquer um a exaustão. Não precisa ser cientista para perceber que a temperatura da Terra está a aumentar.

As mudanças climáticas são transformações que ocorrem nos padrões de temperatura e clima do planeta. Podem ser naturais, mas, desde a revolução industrial, as atividades humanas são as principais responsáveis por essas mudanças que ocorrem devido à queima de combustíveis fósseis como petróleo, gás e carvão, gerando a emissão de gases de efeito estufa, que cria uma capa em torno da Terra, que retém o calor do sol e aumenta as temperaturas.

Mesmo que os negacionistas insistam em teorias conspiratórias e em narrativas que estimulam uma guerra ideológica, as tragédias climáticas estão aí, para comprovar que a crise é uma realidade, confirmando o que a ciência já diz há muito tempo.

No Brasil, as tragédias estão cada vez mais frequentes, tivemos inundações e deslizamentos em 2023 em São Sebastião (SP), em 2022 em Petrópolis (RJ) e agora, quatro tragédias climáticas em menos de um ano no Rio Grande Sul, que vivencia a maior enchente da história do estado, causando um cenário de guerra e destruição.

Os temporais que atingem o Rio Grande do Sul já afetaram mais de um milhão de pessoas em 345 municípios e a cada dia sobe o número de mortes confirmadas, pessoas desaparecidas e desalojadas, crianças e adolescentes separadas de seus pais e família, pessoas e animais tentando se salvar em cima dos telhados.

A emergência climática no Rio Grande do Sul foi prevista pelos institutos de pesquisas meteorológicas, mas o governo ignorou os alertas e não planejou formas de amenizar os impactos do desastre. A falta de investimento, em infraestrutura e prevenção as enchentes, cobra um preço. Negar a crise climática não vai resolver a situação, é preciso encará-la de frente, deixando de lado medidas paliativas e construindo uma agenda de ações que atuem preventivamente e mitiguem os danos dos eventos climáticos extremos.

Contra fatos não há argumentos e quem não está angustiado não está bem informado ou não compreendeu a situação. E como contra fatos não há argumentos é preciso considerar que as comunidades pobres que, frequentemente, não tem acesso às infraestruturas básicas, costumam enfrentar os maiores riscos de enchentes, poluição, deslizamentos e fenômenos extremos.

O climatologista americano, Robert Bullard, explica, de forma muito simples, uma realidade que é inegável: “comunidades negras, periféricas e marginalizadas são afetadas, de modo desproporcional, pela devastação ambiental”.

Obviamente, que agora a prioridade é resgatar as vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul, mas debater sobre as suas causas é fundamental para a construção de políticas públicas que enfrentem com coragem as mudanças climáticas que estamos vivendo. 





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