Antiella Carrijo Ramos – As pautas do 18 de maio
Os leitores da minha antiga coluna no Jornal Debate, aqueles que acompanham o meu trabalho na Assistência Social ou me seguem nas redes sociais sabem que sou crítica ao trabalho social que se organiza numa lógica de execução de campanhas, sobretudo aquelas que coloriram o nosso calendário nos últimos anos.
As campanhas coloridas foram sendo incorporadas nas políticas públicas numa velocidade tão rápida, que não tivemos tempo para refletir sobre a intencionalidade de cada uma delas. Saliento que ser crítica, não é ser contra! Continuo acreditando que as campanhas de conscientização abrem espaço para o debate e criam oportunidades para romper com o silêncio e com o preconceito, além de ser uma maneira eficaz de orientar as pessoas.
Elas possuem o papel de informar e são úteis para o acesso aos serviços, mas elas precisam ser parte de políticas públicas que desenvolvam estratégias de atenção e cuidado de maneira regular, contínua e eficiente. As campanhas são ações pontuais de mobilização sobre temas que precisam ser pauta no cotidiano e nos percursos educativos, com os trabalhadores e usuários dos serviços públicos, buscando, de alguma maneira, construir sentido e significado a partir do encontro de saberes, científicos e populares, promovidos pela mobilização.
Definitivamente, não sou contra as campanhas! Só defendo o direito de pensá-las a partir de uma perspectiva crítica, contribuindo para fortalecer o seu papel, aprimorando os serviços públicos, que avançam na medida em que elas mobilizam as pessoas. Para mim, que sou psicóloga e trabalhadora da Assistência Social, o dia 18 de maio sempre foi um dia de muito trabalho.
É no dia 18 de maio que celebramos duas pautas essenciais para a sociedade brasileira, o “Dia Nacional de Combate à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes” e também o “Dia Nacional da Luta Antimanicomial”. Durante todos esses anos, minha luta foi que as pautas técnicas, políticas e de mobilização social, relacionadas a estes temas, estivessem contempladas na execução das políticas públicas.
O “Dia Nacional de Combate à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes tem o objetivo de mobilizar e convocar toda a sociedade a participar do combate à violência sexual praticada contra criança e adolescente. Esse dia foi escolhido, porque em 18 de maio de 1973, em Vitória–ES, um crime que ficou conhecido como “Caso Araceli” chocou o país. Araceli era uma menina de 08 anos de idade, que foi sequestrada, drogada, estuprada, morta e carbonizada por jovens de classe média alta. Esse crime hediondo até hoje está impune.
A outra pauta, não menos importante, comemorada em 18 de maio, é o “Dia Nacional da Luta Antimanicomial”, organizado por movimentos sociais, grupos, coletivos e entidades, o dia é de celebração da luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental, que promove o combate ao preconceito e a exclusão social.
A conquista da data é resultado de mobilizações que tiveram início nos anos 70, em torno do fechamento dos manicômios, que resultaram no Movimento pela Reforma Psiquiátrica Brasileira, que pautou a aprovação de novas legislações, a implantação da rede de saúde mental e de atenção psicossocial e o estabelecimento de novas práticas.
A importância das pautas do 18 de maio foi reconhecida e elas estão no calendário para que a gente nunca se esqueça de lutar por aquilo que é fundamental para construir uma sociedade justa, humanizada, sem violência e com garantia de direitos.
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