19 de setembro de 2024
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Celso e Junko Sato Prado – Mês de abril de 1918 – Datas Cívicas e da Natureza

Na sociedade republicana brasileira eram atribuídos valores às festas e solenidades cívicas, religiosas e instituições, assim como às comemorações da natureza, todas como expressões pátrias estimulando o civismo e ou a preservação das riquezas naturais.

Nas escolas as festas ou solenidades ocorriam, conforme cronograma, inseridas no ano letivo, algumas obrigatórias.

Em Santa Cruz do Rio Pardo as escolas celebravam as datas importantes, previstas no Calendário Escolar Anual, obrigatórias ou sugeridas citadas algumas delas no mês de abril, período da Velha República – 1889 a 1930.

I – Datas comemoradas no mês de abril

– A ‘Festa das Aves’

O semanário santa-cruzense, ‘O Contemporaneo’, de 27 de abril de 1918: 1.

Segundo estava annunciado, realizou, sabbado passado [dia 21], a encantadora Festa das Aves, instituida pelo governo em nossas escolas publicas.

Havendo conveniencia de hora, foi o programma, que publicamos a semana passada, invertido, para ser desempenhada em primeiro lugar a segunda parte, visto que a noite surprehenderia, fatalmente, as crianças e convidados ainda no lugar designado, se tal inversão não se désse.

Assim, os exercicios e jogos effecturam-se ás 17 horas, no antigo campo do Sport Club Santa Cruz, tendo, porém, antes de para lá se dirigirem os alumnos e professores, feito estes ás duas classes nas respetivas salas, prelecções sobre as aves, bem como lembrado a data de 21 de Abril consagrada á memoria do proto-martyr da independencia.

A parte literaria realizou-se no salão nobre do Grupo, ás 19 horas.

A presença de convidados, tanto no «ground» como no Grupo, foi regular.

Abrilhantou a sympathica festividade a popular banda musical União dos Artistas.”

A comemoração contava com a participação de autoridades, diretores de escolas, professores e alunos, e, quase sempre presentes alguns familiares.

Outro hebdomadário local, ‘A Cidade’, de 03 de maio de 1924: 2, publicou o Programa da Festa das Aves realizada aos 27 de abril de 1924, na Escola Mista da Fazenda Caetê:

” – I Parte

Hymno e flores no Pavilhão

Hymno Nacional Brasileiro – pela classe.

Respeitar os ninhos – poesia pelo alumno José F Soarez.

Passarinho imprudente – pela alumna B de Assis.

O Gallo – poesia, pelo alumno Juvenal Paiva.

O meu retrato, poesia, por Nair de Assis.

A Caridade – poesia, pelo alumno V. P. da Silva.

– II Parte

Hymno à Minha Terra – pela classe.

Meu Passarinho – poesia, pelo alumno A. G. da Silva.

A Gallinha e os pintinhos – por A. de Assis.

Manhã de Inverno – por Maria de Assis.

A Garça exilada – poesia, pelo menino A. Romeu.

Enfim, felizes – pelo menino A. Thomaz.

Hymno Nacional Brasileiro – pela classe.

Hymno e flores no pavilhão – pela classe.

A Festa das Aves, era realizada, sempre, no mês de abril em data próxima ou concomitante a alguma comemoração maior.

‘Dia do Protomártir Tiradentes’

Em memória ao herói da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, aos 21 de abril de cada ano, celebrava-se o ‘Dia de Tiradentes’, alcunha do homenageado.

A imagem de Tiradentes, como herói nacional, foi construída na República, quando exaltado ‘Mártir’., não antes disto, e a data somente feriado nacional em 1965, pela Ditadura Militar (1º/04/1964 a 15/03/1985).

O Movimento Inconfidente, articulado pela elite da Capitania Mineira, contra o controle colonial português, entre os anos 1788/1789, teve muitos de seus participantes capturados, presos e deportados, apenas Tiradentes condenado à pena de morte, por assumir responsabilidade, daí morto, o seu corpo esquartejado e a cabeça exposta na praça central de Ouro Preto, Minas Gerais.

Santa Cruz do Rio Pardo, em 1918, celebrou o dia 21 de abril, como data “(…) consagrada á memória do proto-martyr da independência”, coisa pouca:

“Ao ser hasteada, Domingo, passado, 21 de abril, o pavilhão nacional do quartel do Tiro 451. Tocou o Hymno Nacional a banda musical União dos Artistas. A bandeira foi também hasteada no Paço Municipal, no Grupo Escolar e na redacção da «Cidade». Nenhuma outra commemoração se fez na cidade.” (O Contemporaneo, 27 de abril de 1918: 1).

– ‘Descobrimento do Brasil’

O dia 22 de abril, marcado pela celebração do Dia do Descobrimento do Brasil, nem sempre foi assim, Durante alguns décadas o governo brasileiro reconhecia o dia 3 de maio como data do descobrimento:

“3 de Maio

Memora-se hoje o descobrimento de nossa Terra.

Emprehendimento de grande alcance, em mera causalidade, como queiram, marcou o dia 3 [de] maio o inicio de um povo. Atravessar o Atlantico, alcançar uma nova terra, plantar uma cruz e sobre ela firmar o emblema do crivo, foram acontecimentos longiquos que separaram este abençoado torrão para ser a Patria Brasileira.

Entendemos, pois, o descobrimento do Brasil.” (A Cidade, edição de 03 de maio de 1924: 2, cópia em mal estado, pode conter erro de palavra).

Datas controversas até a localização da carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, informando que, no dia 21 de abril, a expedição marítima de Pedro Alvares Cabral avistava sinais de terra e aves costeiras, aos 22 de abril já visível a terra, na qual o desembarque na manhã de quinta-feira, 23 de abril.

– ‘Dia do Hino Nacional’

Foi oficialmente estabelecido em 13 de 1922, durante as comemorações do centenário da independência do Brasil, governo de Epitácio Pessoa, autores Francisco Manuel da Silva e Joaquim Osório Duque-Estrada.”

“A melodia foi criada, em 1831, como parte da celebração da abdicação de d. Pedro I, sendo posteriormente aproveitada para uma canção em homenagem a d. Pedro II e, finalmente, para o Hino Nacional Brasileiro. A letra foi criada em 1909 e comprada pelo governo brasileiro por cinco contos de réis.” (https://brasilescola.uol.com.br/historiab/hinonacionaldobrasil.htm – acesso aos 23/04/2024, 18:52 horas).

II – Datas posteriormente oficializadas

– ‘Dia do Índio’

Até 1943 não existia o ‘dia em homenagem ao indígena’, quando decretado pelo Governo Getúlio Vargas, data internacional recomendada aos 19 de abril de 1940, no Congresso Indigenista Interamericano, em Pátzcuaro, México.

“O tradicional ‘Dia do Índio’, comemorado todo 19 de abril, passa a ser chamado oficialmente de Dia dos Povos Indígenas. É o que define a Lei 14.402, de 2022, promulgada na sexta-feira (8) pelo presidente Jair Bolsonaro. A mudança do nome da celebração tem o objetivo de explicitar a diversidade das culturas dos povos originários.” (Fonte: Agência Senado, Brasil).

– ‘Dia do Exército’

Decreto [Federal] de 24 de março de 1994 instituiu a data 19 de abril como o Dia do Exército Brasileiro, em memória aos brasileiros e portugueses unidos contra a invasão holandesa em Pernambuco, na Batalha dos Guararapes aos 19 de abril de 1648, data comemorada mais nos quartéis:

“A data leva em consideração essa batalha porque ela é entendida como o momento em que surgiu uma força de defesa do Brasil. A data homenageia o Exército Brasileiro e destaca a importância que essa instituição tem na defesa do território nacional, na manutenção da ordem e na defesa dos princípios constitucionais no Brasil.”19 de abril – Dia do Exército Brasileiro”, apud: https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/dia-do-exercito-brasileiro.htm – consulta e cópia: 21/04/2024 às 21,42 horas).

III – Data Nada Oficial

– Dia da Mentira

Dia internacional celebrado em diversos países, com brincadeiras e pegadinhas entre familiares e amigos, ou, mesmo, divulgações de falsas notícias pelas mídias. Teria o dia se originado na França, quando o Rei Carlos 9º, em 1564, decidiu que o Ano Novo, comemorado no reino em 1º de abril, aliás uma festança entre 25 de março a 1º de abril, aconteceria em 1º de janeiro, demandando tempo para parte da população acostumar-se à troca, transformada em alvo de zombarias, os “bobos de abril”, convidados para festas inexistentes e outras peças no dito dia 1º de abril.

No Brasil ‘a coisa’ pegou quando um jornal mineiro anunciou, em 1º de abril de 1828, a morte de D. Pedro I, desmentida no dia seguinte. O nome do jornal, “Mentira”.

Acesse nossos trabalhos: https://historiasantacruzdoriopardo.blogspot.com/
Celso Prado e Junko Sato Prado – pradocel@gmail.com

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