Antiella Carrijo Ramos – Princípio não é receita de bolo
A vida tem corrido rápido demais. Três meses já se passaram deste ano que acabou de começar. Tenho a impressão que o tempo está no modo acelerado, como num áudio de WhatsApp. Os dias têm sido cheios e quando me dou conta acabou a semana e finalizou o mês. No modo acelerado, já passou o aniversário da cidade, o aniversário do Felipe, a corrida de boia, o aniversário da minha mãe, o carnaval, meu aniversário, nossa viagem de férias na Bahia, a Páscoa e o aniversário da minha sobrinha Rafaela. E no meio disso tudo, muito trabalho dentro e fora de casa.
Nesta última semana, mesmo com o espaço reduzido na agenda, participei de duas entrevistas. Estive no IBTV online, em um bate papo muito gostoso sobre a vida com o Doni de Oliveira. Num outro momento, participei de uma entrevista, para um trabalho acadêmico, cujas perguntas foram muito bem elaboradas pelo meu amigo arquiteto e urbanista Lucas Pamio que, num determinado momento, me questionou sobre os valores e princípios que guiavam o meu trabalho e se manifestavam em minhas ações e decisões. Tive que pensar para responder, fiquei refletindo algum tempo sobre os princípios que norteiam a minha prática profissional e só depois consegui enumerá-los e explicá-los um a um.
A forma como compreendo o processo de desenvolvimento humano foi o primeiro princípio da minha lista. Ter a convicção de que as pessoas se desenvolvem a partir de suas relações sociais ampliam a minha visão do mundo. Relações que são, diretamente, determinadas pelas nossas condições de vida, individuais e coletivas, que se dão num determinado tempo histórico e num determinado contexto social, econômico e ideológico.
Pensar assim, me ajuda a quebrar todos os paradigmas teóricos que concebem o desenvolvimento humano como algo natural, inato e determinado pelas vontades individuais. Essa ideia me levou ao segundo princípio que apontei na entrevista, a necessidade da Assistência Social priorizar a coletividade, organizando processos grupais que reflitam, criticamente, a realidade e suas múltiplas determinações, compreendendo que a emancipação das pessoas só ocorrerá a partir de um movimento organizado, de luta coletiva, que mire a construção de um futuro, verdadeiramente, comprometido com a vida de todas as pessoas.
E por último, me lembrei da postura intransigente em defesa dos direitos humanos, que me obriga a assumir um posicionamento ético que busca humanizar todos os corpos e combater todas as formas de violência e opressões, sobretudo, aquelas que recaem sob as periferias das cidades. Princípios não são como receitas de bolo, eles precisam ser elaborados, refletidos, vivenciados e compartilhados cotidianamente, para que um dia deixem de ser só uma ideia, para se transformarem em realidade concreta.
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