Antiella Carrijo Ramos – Não poderia perder o 22 de abril
Algumas coisas na vida a gente só aprende fazendo. Por mais que a gente estude e se aproprie do conhecimento teórico, é no fazer prático e cotidiano que adquirimos experiência e habilidade. Quando comecei a escrever, no Jornal Debate, eu não tinha experiência. Embora tenha passado boa parte da vida escrevendo memórias e narrativas, eu escrevia para uma única leitora – eu mesma.
Foi nas redes sociais que criei coragem e me coloquei à prova ao compartilhar minhas opiniões e reflexões em forma de texto. Acredito que foi ali que lancei as primeiras sementes da escrevedora, que mais tarde virou colunista de jornal e que segue aprimorando a sua escrita, numa coluna semanal, nas páginas online deste portal de notícias.
Hoje, com mais experiência, mas ainda sem seguir nenhum método especifico, escrevo sobre o que sinto, vejo e penso. Deixei pra lá as datas importantes do calendário e estou sempre atrasada em relação aos fatos, pautas e temas que surgem por aí. Mas uma conversa com meu amigo Niltinho, que também é colunista neste portal, me fez repensar sobre alguns aspectos do processo da escrita e o quanto é importante escrever sobre as coisas que acontecem, no tempo em que elas acontecem.
Não perder o tempo dos acontecimentos pode garantir uma maior fidelidade ao fato ocorrido ou vivenciado na hora da escrita. Além de criar um diálogo com as pautas que estão no debate público, produzindo novos conhecimentos e paradigmas que vão contribuir para o avanço da sociedade.
Foi assim que me dei conta que havia perdido a oportunidade de escrever sobre o dia dos Povos Indígenas. Poderia ter escrito sobre a mudança de nomenclatura de “índio” para “indígena”, contar sobre a história do Colombo, que chegou nas Américas acreditando que estava nas Índias e por isso os povos originários foram genericamente chamados de “índios”, termo que perpetua preconceitos, estereótipos e violências. Ah, eu poderia ter escrito sobre tantas coisas!
Perdi o 19 de abril, mas não poderia perder o 22 de abril. Mas qual história contar?! Descobrimento ou invasão? A história oficial narra o descobrimento do Brasil, com a chegada das caravelas portuguesas, sob a liderança de Pedro Alvares Cabral, na atual cidade de Porto Seguro, no sul da Bahia. Essa história carrega uma certa verdade, se a gente pensar que, para os europeus, eles estavam descobrindo realmente um novo lugar.
Mas a história sempre tem mais de um lado e para a população que já habitava as Américas, a chegada de pessoas estranhas, que usurpavam a terra e os corpos, impondo à força e com violência novos modos vida, foi de fato uma invasão, porque já tinha gente nesse chão – os povos originários de uma terra chamada Pindorama, que foi invadida, conquistada e que passou a se chamar Brasil.
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