24 de novembro de 2024
OpiniãoZ2

Antiella Carrijo Ramos – Duas Lembranças


Quando me pego pensando sobre a minha relação com as questões ambientais, duas lembranças de infância são muito frequentes. Me recordo que, na década de 80, eu adorava ir ao trabalho do meu pai, onde eu passava as tardes folheando revistas, que ele mantinha na recepção do salão para entreter os clientes. Passava horas lendo a revista Manchete, lia de tudo, das matérias que nutriam a minha curiosidade sobre a vida dos artistas às notícias alarmantes sobre o Brasil e o mundo.

Foi em alguma dessas tardes, que tomei conhecimento que a cidade mais poluída do mundo ficava no Brasil e se chamava Cubatão. Localizada na Região Metropolitana da Baixada Santista, a cidade ficou conhecida como o Vale da Morte em decorrência da emissão excessiva de poluentes no ar. Dessa primeira lembrança, guardo o espanto da criança, que se assustava com a destruição que parecia não ter solução. Anos mais tarde, a cidade de Cubatão implementou políticas públicas que reverteram aquela situação e a cidade foi reconhecida pela ONU como símbolo de recuperação ambiental.

Quando penso sobre a origem do desenvolvimento da minha consciência ambiental me vem à cabeça uma outra lembrança – a Eco-92. Eu tinha dez anos, quando acompanhei pela televisão as notícias da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Cúpula da Terra, realizada na cidade do Rio de Janeiro. A conferência reuniu líderes de 179 países e estabeleceu de forma definitiva a ideia de desenvolvimento sustentável, levando em consideração as esferas social e econômica.

Obviamente que naquela época eu não tinha muita noção do que estava acontecendo, ouvia pela primeira vez a palavra ecologia e mesmo sem entender muito bem o seu significado, as imagens que eu via na televisão me traziam esperança, me faziam acreditar que era possível frear a destruição do planeta e apontavam que a solução passava pela união das pessoas, que precisavam fazer a sociedade caminhar numa direção que fosse capaz de construir estratégias de preservação dos recursos naturais do planeta.

Embora as questões ambienteis povoem as minhas memórias de infância, eu nunca fui ativista e apesar do tema ter sido gerador de muita discussão nos processos grupais que atuei na Assistência Social, foi só no Projeto “Expedição Rio Pardo” que me vi atravessada pelo desejo de aprofundar o meu trabalho nestas questões. Foi observando o rio Pardo e o território da Vila Divinéia que percebi que era necessário sair da superficialidade das ações pontuais, transformando o cuidado com a natureza numa estratégia permanente para a ampliação da proteção das famílias atendidas na Assistência Social. Para isso, era preciso unir as pessoas e convencê-las que fazer alguma coisa é muito melhor do que não fazer nada.

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