Ordenar trânsito de Santa Cruz é desafio frente os 1.200 novos veículos nas ruas todos os anos
A cada ano, a quantidade de novos veículos que passa a circular em Santa Cruz do Rio Pardo, cresce em média 3,2%. São cerca de 1.200 carros, motos, caminhões, caminhonetes, entre outros modelos nas ruas. Nos últimos quatro anos, segundo dados do Ministério dos Transportes, a frota de Santa Cruz cresceu 10%. Passou de 35.328 em 2020, para 38.968 no último ano. Mas o número pode estar subestimado, uma vez que o Departamento Municipal de Trânsito contabiliza 40.285 autos.
O crescente aumento do número de veículos traz à tona os investimentos tímidos no setor, principalmente no que se refere à educação no trânsito, construção de vias alternativas de mobilidade, como a implantação de ciclovias, e a concretização de projetos para dar mais fluidez ao tráfego já caótico do município.
Nos últimos quatro anos os investimentos no setor se limitaram à instalação de lombadas ecológicas e novos semáforos, dispositivos que travam ainda mais a circulação de veículos.
Segundo a Prefeitura de Santa Cruz, ao longo da atual gestão foram investidos pouco mais de R$ 1 milhão no trânsito, sendo R$ 435 mil em pinturas e sinalização, outros R$ 262 mil em lombadas e R$ 350 mil em manutenção de semáforos e na instalação de dois novos equipamentos. Quanto às ações educativas, o município alega que todos os anos, durante os meses de maio e setembro são promovidas campanhas de conscientização e que existe um estudo para iniciar palestras mensais direcionadas aos estudantes nas escolas.
CIDADE DAS LOMBADAS
Santa Cruz do Rio Pardo possui, segundo levantamento da Prefeitura, 22 lombadas ecológicas instaladas nos últimos quatro anos, fora as tradicionais já existentes. Em diversas ruas do município, em pouco menos de 100 metros, existem duas ou mais lombadas.
Uma das vias mais extensas de Santa Cruz começa nos fundos do cemitério, na Vila Madre Carmem, com o nome de rua José Amorim Ribeiro. Logo após o supermercado Avenida, ela se torna rua Euclides da Cunha e, a partir do Ginásio de Esportes, avenida Clementino Gonçalves, seguindo com essa denominação até a rodovia SP-225 (Ipaussu-Bauru). Entre um ponto e outro são 5,8 Km e 22 lombadas, uma a cada 260 metros.
Santa Cruz tem lombada até debaixo de semáforo, como na esquina da Drogalar, no cruzamento das ruas Euclides da Cunha com a Marechal Bitencourt. Ou na esquina da avenida Clementino Gonçalves com a rua José Zacura, em frente ao Ginásio de Esportes. Ou ainda na rua Farmacêutico Alzírio de Souza Santos, com a rua Barão do Rio Branco, na esquina do posto de combustíveis à caminho da Estação. Também na esquina do Debate, onde além da lombada e do semáforo, também existe uma depressão.
Lombada em esquina junto com sinalização de “Pare” a cidade também tem, atrás do colégio Ave Maria, no cruzamento das ruas Farmacêutico Alzírio de Souza Santos, com a Luísa Vicencott Camilotti. O motorista que sobe a rua da Ritinha Boava precisa parar e, assim que avança, já encontra a lombada, tendo que reduzir a velocidade do carro praticamente no meio do cruzamento.
Santa Cruz, até recentemente, tinha lombada inclusive em estrada rural. Duas delas haviam sido instaladas 50 metros uma da outra, no novo asfalto na estrada boiadeira, que começa ao lado da antiga Rosalito. Elas foram retiradas após tratores e maquinários pesados danificarem os dispositivos.
Mais lombadas ecológicas serão instaladas ainda este ano. Estão nos planos do município outros três dispositivos: na rua Antônio Pereira dos Santos, na avenida Rosa Pereira Nantes (próximo à rotatória do Jardim Fátima) e na rua Vitório Frasson.
Lombadas causam prejuízos ao meio ambiente, aos veículos e ao bolso dos motoristas. O “breca e arranca” dos automóveis diminuem a vida útil de freios, pneus e componentes de suspensão. Fora o aumento do consumo de combustível e da poluição sonora e do ar, pois a reaceleração aumenta as emissões de carbono e produz mais ruído.
Especialistas em trânsito sugerem lombadas eletrônicas educativas e até radares de velocidade como alternativas às lombadas convencionais, além de uma educação de trânsito que deve começar logo nos primeiros anos de escola.
NOVOS SEMÀFOROS
Nos últimos quatro anos Santa Cruz também investiu em novos semáforos para disciplinar o trânsito. Os mais recentes foram instalados na esquina do Jornal Debate, na avenida Clementino Gonçalves; e na esquina da igreja matriz São Sebatião, na avenida Tiradentes com a rua Farmacêutico Alzírio de Souza Santos, dois pontos de tráfego intenso. Os semáforos nesses dois locais resultaram em mais congestionamento de veículos, especialmente em horários pico.
O tráfego na região central de Santa Cruz pode ficar ainda mais lento caso o projeto que consta no Plano de Mobilidade Urbana 2023 seja executado. O Demutran (Departamento Municipal de Trânsito) aponta a necessidade de mais dois semáforos. O primeiro na esquina do banco Sicoob, na avenida Tiradentes com a rua Catarina Etsuco Umezu. Outro na esquina do supermercado Avenida, na rua Catarina Etsuco Umezu com a Euclides da Cunha. Com as alterações, os quatro primeiros quarteirões da avenida Tirantes teriam um semáforo em cada esquina. Na Euclides da Cunha seriam três semáforos seguidos.
A solução utilizada em algumas cidades (Rio Claro-SP, São Luis-MA, Palhoça-SC, Curitiba-PR, entre outras) para dar mais fluidez ao tráfego de veículos é a utilização de agentes de trânsito para disciplinar a mobilidade especialmente em horários de grande movimento.
Santa Cruz do Rio Pardo possui o Demutran. São apenas 5 agentes responsáveis por manter a ordem no trânsito, emitir notificações, participar de ações educativas e de conscientização aos motoristas e pedestres. Eles também têm a função de providenciar a sinalização de emergência ou desencadear ações de reorientação do trânsito em casos de acidentes, alagamentos ou modificações temporárias da circulação de autos.
Em sua página na internet, o Demutran diz que seu objetivo é “desenvolver estudos e projetos de engenharia de tráfego, realizar adequações ao trânsito local; a implantação e manutenção de sinalização viária vertical e horizontal; a fiscalização do trânsito com o objetivo de zelar pela fluidez e segurança, e a promoção de campanhas educativas, a fim de conscientizar a população para um trânsito mais seguro, diminuindo assim o número de acidentes.”
ACIDENTES
Mesmo com as lombadas, semáforos, investimentos em pintura e sinalização e campanhas educativas, o número de acidentes de trânsito em Santa Cruz do Rio Pardo aumenta a cada ano. Dados do próprio Demutran baseados nas estatísticas do Ministério dos Transportes revelam que, em 2020 foram notificados 269 acidentes. O número subiu para 296, em 2021 e para 345, em 2022, uma alta de 16% em três anos totalizando 96 mortes e 9.436 feridos. Os acidentes de 2023 ainda não foram contabilizados no sistema.
MULTAS
O Demutran também é responsável pela fiscalização do trânsito e aplicação de multas. Só em 2023 os cofres da Prefeitura arrecadaram R$ 800 mil em autuações, 36% a mais que o período anterior. O balanço está na edição 448 do Semanário Oficial do Município do dia 27 de janeiro de 2024. Em janeiro de 2024 o município arrecadou R$ 130 mil em multas (Semanário, edição 453, de 24 de fevereiro de 2024) o que representa 23% mais que o mesmo período de 2023. Além do Demutran a Polícia Militar também aplica autuações.
Ausência do cinto de segurança pelo motorista ou passageiro e manuseio do telefone celular na direção são as duas principais causas de multas na cidade. Ambas são responsáveis por cerca de 60% das autuações. Quem dirige falando ao celular é multado em R$ 293,47 e perde 7 pontos na CNH. A multa por falta de cinto é de R$ 195,23, e mais 5 pontos na carteira. As demais infrações registradas em Santa Cruz estão relacionadas à falta de capacete na condução de motos, estacionamento em local irregular ou falta de talão da zona azul, entre outras.
PONTOS NEVRÁLGICOS
Santa Cruz está praticamente instalada dentro de três rodovias que cortam a cidade formando um triângulo: A SP-225 (Ipaussu-Bauru), a SP-374, que passa por Ourinhos e Assis, até Presidente Venceslau e a Plácido Lorenzeti que, de um lado leva a São Pedro do Turvo e, de outro, cruzando a cidade, leva até o acesso ao bairro da Estação.
Além de importantes rotas intermunicipais, essas rodovias servem como corredores de acesso a diversos bairros do município. A SP-225 faz a ligação entre o Centro e a região da Estação, Jardim São João e Parque das Nações. A SP-374 é utilizada como via de acesso entre os bairros da região da Ponte Nova e Parque São Jorge rumo ao Distrito Industrial ou região do Lorenzetti e Jardim Santana.
Ocorre que, com apenas seis saídas, sendo três para a SP-225 e três para a SP-374, a cidade acaba represada e o trânsito se afunila no deslocamento entre bairros causando congestionamentos.
Os pontos nevrálgicos do trânsito de Santa Cruz são: o acesso via ponte do Rio Pardo entre a região central e bairros da Estação e vice-versa; o acesso pela avenida doutor Pedro Camarinha de quem vem do Centro e da região da Vila Saul, e das regiões do Jardim Brasília, Jardim Santana e Lorenzetti, sentido Distrito Industrial e SP-374. Início da manhã e fim da tarde são os piores horários.
São pontos que possuem um agravante em comum: concentram ruas e avenidas estreitas. Na maioria delas, os veículos se locomovem em fila indiana ocasionando longas filas. Novos bairros e loteamentos seguem o mesmo padrão de ruas e avenidas apertadas. São regiões que, conforme a cidade vai crescendo estão fadadas a desenvolver aglomerados de veículos, formando espaços em que não se privilegia pedestres, nem ciclistas, nem os próprios motoristas. Exemplo são Santana 1, 2 e 3, ou Pacaembu, João Picin e Lorenzeti. Bairros novos que já nasceram com problema de mobilidade.
PLANO DE MOBILIDADE
O Plano de Mobilidade Urbana 2023, que pode ser acessado no Semanário Oficial do Município do dia 8 de abril de 2023, aponta a falta de conexões entre os bairros causada pela descontinuidade da malha viária como o principal problema de mobilidade de Santa Cruz. Essa descontinuidade advém das barreiras urbanas naturais, como ribeirões e matas, ou edificadas, como construções e residências.
No dia 20 de março, a Prefeitura de Santa Cruz anunciou a intenção de construir duas vias de ligação entre bairros. Trata-se de um projeto que, se sair do papel, pode aliviar o trânsito na região central e nos altos da Estação. Com investimento de R$ 26 milhões a proposta é construir duas novas pontes e vias de circulação de veículos.
A principal obra vai ligar a região da Chácara Peixe e Joaquim Paulino com o Pacaembu, São João e altos da Estação. O projeto traça uma avenida com cerca de 2Km de extensão, que parte do final da avenida Carlos Rios, no entroncamento com a rodovia SP-225, passando por áreas rurais até o rio Pardo, terminando ao lado da Cerealista Sefert.
Outra obra prevê a continuidade da rua Catarina Etsuco Umezu até a rua Matias Ban, cortando o terreno do antigo curtume. São aproximadamente 200 metros de via com uma ponte sobre o ribeirão São Domingos que vai ligar o centro da cidade com a região do Santana, Brasília e Vila Matias.
ANEL VIÁRIO
Outra solução apontada pelo Plano de Mobilidade para aliviar a circulação de veículos no município é a criação de um anel viário conectando todas as zonas urbanas de Santa Cruz. Segundo os estudos, o dispositivo margearia toda a cidade, partindo do entroncamento da SP-255 com a SP-374 (próximo ao Posto Kafé), seguindo até o trevo do Posto Beira Rio. Na sequência entraria na zona rural passando o rio Pardo sentido Cerealista Sefert (mesmo trecho anunciado pela Prefeitura recentemente). Então seguiria ao Parque das Nações e, em outra zona rural, passaria atrás do Distrito Industrial, margeando a SP-374 até o entroncamento da SP-294.
A obra contemplaria serie de melhorias como paisagismo e sistema de iluminação, passeios públicos mais largos, transposição de rio, ribeirão e riachos por passarelas sustentáveis, além de criar espaços para comércio e serviços. O projeto defende ainda uma rede de ciclovias implantadas em denominadas “vias verdes”, com árvores e jardinagem, privilegiando a mobilidade alternativa, um verdadeiro paraíso para pedestres e ciclistas.
CICLOVIAS
Segundo o Plano de Mobilidade, ausência de ciclovia é um problema apontado em todas as regiões da cidade. Atualmente Santa Cruz possui cerca de 5 Km de ciclovias divididos em três instalações. Uma delas liga nada a lugar nenhum, são 900 metros com início na Guacira Alimentos até o antigo Senai, com uma parte interrompida pela ponte do rio Pardo.
Outra ciclovia começa na Ângelo Carnevale, sentido Estação, após o pontilhão da SP-225 margeando a rodovia até a rotatória do Parque das Nações, com 1,6Km de extensão. Uma reforma nessa trecho, no valor de R$ 400 mil já foi aprovada e, segundo a Prefeitura, começa ainda este ano.
A ciclovia mais recente, com 2,6Km, está localizada no bairro São João. Começa na avenida Arisosto Moura Cesar, na Estação, continua pela avenida Rosa Pereira Nantes até a vicinal caminho de Sodrélia.
Há no Plano de Mobilidade projeções para novas ciclovias, desde que sejam consideradas as ruas com menor declive e que interliguem instituições de ensino, serviços de saúde, praças e demais áreas em comum. O projeto prevê inclusive a instalação de um bicicletário junto à Rodoviária. Devaneios afora, o Plano de Mobilidade apresenta um projeto factível, não descarta a possibilidade de uma ciclofaixa unidirecional na avenida Clementino Gonçalves.
PESQUISA
Pesquisa realizada pelo Demutran e publicada no Plano de Mobilidade ouviu cerca de 500 pessoas sobre a forma como a população se locomove em Santa Cruz do Rio Pardo. Carro foi apontado por 33% dos entrevistados como principal meio de transporte. Porém um dado chama a atenção: juntas, as pessoas que se locomovem à pé, de bicicleta ou que utilizam mais de um meio, somam 35%, revelando que, apesar de a cidade privilegiar os automóveis, ainda há espaço para investimentos em outros meios de locomoção.
Depois do carro, o ônibus foi apontado por 18% dos entrevistados como principal meio de locomoção. Na sequência aparecem: a pé (15%), moto (14%), mais de um meio de transporte (15%) e bicicleta (5%).